Pedro Santana Lopes e Rui Rio encontraram-se pela última vez antes das eleições de sábado para a liderança do PSD. E, contra todas as expectativas, tudo acabou com uma gargalhada a dois...
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O derradeiro braço-de-ferro, desta vez na rádio, começou com os dois candidatos a fitarem um espelho imaginário. Como se veem? O que têm de bom? E de mau? Despachado o tal cliché de que é difícil falarmos de nós próprios, seguiu-se a autoavaliação. Rio diz que é coerente e estável, que não anda a saltitar. Santana diz que aproxima e ouve as pessoas. E que decide. E que concretiza. E que faz obra. O defeito de Rio, diz o próprio, passa pela idade, que leva a uma maior inflexibilidade nos princípios. Já Santana Lopes fala na generosidade, uma virtude transformada em estorvo. "Costuma dizer-se que em política é preciso ter um apuradíssimo killer instinct", explica o ex-autarca de Lisboa.
O debate teve de tudo: de canábis a legalização da prostituição, a lapas e à relação com Marcelo, passando pela reforma constitucional, com direito a uma viagem à entrevista de Miguel Relvas ao Público. Antes de lá irmos, porque não pegar naquele estrangeirismo em cima? É que era uma das expressões preferidas de José Mourinho, o tal homem cuja chegada a Portugal, em 2007, levou à interrupção do comentário de Santana na SIC Notícias. A seguir, com a emissão de regresso ao estúdio, Santana Lopes abandonou a entrevista, lamentando que o futebol era colocado à frente do fado do país. Isto para dizer o quê? Que houve um suspiro de 2007 na reta final deste debate. Nas despedidas fez-se referência às emissões especiais de sábado das rádios TSF e Antena 1, que terão lugar depois do futebol. Lá ao longe (baixinho), ouviu-se o desabafo de Santana: "Muito bem, depois do futebol... [risos]"
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A seguir o tabuleiro de xadrez aterrou na mesa e foram descodificadas as jogadas para as próximas legislativas. Santana recusa viabilizar um Governo minoritário do PS, pois o partido rival não tem "tradição de generosidade". Mas espera o contrário do PS. Lá está, a tal virtude que afinal é um defeito mas que podia muito bem ser uma virtude. Rui Rio quer amarrar o tal Governo minoritário à Assembleia, esvaziando a importância dos partidos da esquerda.
Os dois candidatos à sucessão de Pedro Passos Coelho, que informou esta manhã que abandonará o Parlamento depois das eleições, rejeitam o cenário de demissão caso fracassem nas legislativas. Mas Santana Lopes vai mais longe: e ao contrário, António Costa apresentará a demissão?, questiona. Numa coisa estão na mesma página: estão desejosos por esse debate com o atual primeiro-ministro. É fácil adivinhar-lhes o sorriso desafiante enquanto esboçam o despique.
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Rever a Constituição não é uma prioridade, mas ambos desejam-na, tal como o futuro ex-líder. Falta isenção ao documento, diz Santana. Rio quer reformar o sistema político e o regime.
Ó Relvas, Ó Relvas, o cantinho está à vista
A entrevista de Miguel Relvas ao Público esquentou os ânimos, pois aquela ideia de que o próximo líder é carne para canhão não caiu bem. Rio fala em abrir de portas para quem não teve "coragem" para agora entrar em ação. Rui promete solidariedade a Pedro, caso este vença, e diz que sabe bem como fazer as coisas. Não é preciso expulsar militantes: "Quando temos a razão do nosso lado, os militantes dão razão e os outros ficam encurralados no cantinho". No tom, porventura, mais sólido deste debate, Rio rematou: "Deixe-me ganhar, que vai ver como as coisas são".
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As lapas deram à costa no debate. O que são, afinal? São os que andam atrás dos líderes, independentemente de opiniões e convicções. "O que menos gosto é dos feijões furados, os que têm duas caras ou mais que duas caras", diz Pedro Santana Lopes, que arrancaria a seguir um riso a Rui Rio. "Gosto dos que têm posições claras e firmes, não gosto nada disto. Andam a dizer umas coisas de uma candidatura, outras de outra. Isso horripila-me". Segundo o Priberam, horripilar é um verbo transitivo que significa: causar arrepios; inspirar horror; arrepiar-se; sentir horror". As lapas mais parecem um filme de Hitchcock.
O caldo entornou-se quando Luís Filipe Menezes veio à baila. Santana Lopes censura a falta de lealdade ao partido, em alusão à ausência de apoio de Rio a Menezes no Porto. O ex-autarca da Invicta defende-se, cerrando o tom: "A situação de Vila Nova de Gaia ainda era pior do que a situação de Portugal com o engenheiro José Sócrates. Se fosse hoje fazia exatamente a mesma coisa. A minha dignidade não está à venda".
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Um consultório de Psicologia, canábis e os votos em branco
Quando Rui Rio disse, com uma senhora confiança, que Marcelo Rebelo de Sousa se dará melhor com ele, Santana Lopes tirou da cartola a sua versão informal e irónica: "O Rui depois desta candidatura pode abrir um consultório de Psicologia. Ele está cada vez mais especialista na matéria".
Para aqueles que dizem que pouco os separa, não é bem assim, como ficou demonstrada pelo último capítulo desta conversa. Discutia-se a legalização da prostituição e o recurso da canábis para fins medicinais. Quanto ao último, Rui Rio defende que sim, se aprovado pela Ordem dos Médicos e com receita médica; Santana é contra: "Vivemos num tempo de quase ditadura moral de esquerda. O PPD/PSD tem de ter uma posição coerente e lógica", explica. A legalização da prostituição é também rejeitada pelo ex-autarca de Lisboa, enquanto Rui Rio pede um debate a nível nacional.
Na altura de descansar o verbo e limpar as armas, os candidatos apelaram ao "voto em massa". Mas foi aqui que a descontração foi protagonista.
-- Votem em massa
-- No limite podem votar em branco, se quiserem... (RR)
-- Lá 'tás tu com as cadeiras em branco... (PSL)
E assim se encerrou o debate, com gargalhadas ruidosas.