Santana Lopes não quis discursar no primeiro congresso do Aliança. Subiu ao palanque para "conversar" com os seus militantes.
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No primeiro discurso do primeiro congresso do Aliança, Santana Lopes começou por pedir desculpa por falar tão tarde. "Não me apetece discursar", disse. Perante os seus apoiantes, queria apenas "conversar".
"Este não é um partido de uma pessoa só", por isso foi bom que todos os congressistas que assim desejaram pudessem falar, para que se pudesse ter uma noção da "dimensão verdadeiramente nacional" do Aliança. "Confesso que estou esmagado pelo que tenho visto. Esmagado no bom sentido."
"Que se desengane" quem pensa que o Aliança nasceu "por causa de uma pessoa" ou "de lugares".
Política com P
Fundar o Aliança foi "a opção certa", até porque "a política ainda vale a pena", a "política com P grande", afirmou depois de elogiar o "trabalho obviamente coletivo" e o "modo de intervenção cívica" e de "serviço à comunidade" demonstrado pelos militantes do novo partido.
Num discurso, ou conversa, onde não faltou Sá Carneiro, Francisco Lucas Pires, Mário Soares, e e até Álvaro Cunhal, todos aqueles que contribuíram para uma política "nobre", também houve lugar para um ataque à 'geringonça':
"Aquilo que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. E isso aconteceu a esta frente de esquerda."
"Qual é o estado do país hoje em dia? Que país é este?", questionou, tecendo críticas em especial ao estado do Serviço Nacional de Saúde e aos tempos de espera por cirurgias e consultas.
"Como é que é possível em Aveiro, Vila Real, Lisboa, São João no Porto, como é que é possível 1599 dias de tempo de espera em Vila Real? Por um otorrino em Chaves esperam-se dois anos a dois anos e meio? Porto, São João, uma consulta pela obesidade demorar cerca de dois anos. Que SNS é este? Isto é ser socialista? Isto é ser de esquerda?"
"É um crime de lesa-pátria tudo o que se tem passado no Serviço Nacional de Saúde", sustentou o antigo primeiro-ministro, defendendo que a situação só poderá ser invertida com um "desígnio nacional" que envolva "vontade política e convicção" dos dirigentes partidários.
Um apelo a Marcelo
Santana Lopes pediu ainda ao Presidente da República para não exagerar na solidariedade com o Governo, ao aludir à convergência de Marcelo Rebelo Sousa com o executivo na questão da greve dos enfermeiros. "Sempre defendi e defendo a solidariedade institucional entre Presidente da República e Governo, mas não é preciso exagerar, é preciso equilíbrio".
O líder do Aliança disse não ter gostado de ver Marcelo "saltar como saltou" na questão da greve dos enfermeiros, recordando que o executivo de António Costa trata com "dois pesos e duas medidas" a bastonária da Ordem e o "senhor da Fenprof".
Elogiou, contudo, a seriedade e a competência do Presidente da República, mas recusou-se a dar-lhe apoio antecipado, até porque "o homem ainda não decidiu se se recandidata ou não".
"Nesta altura, o que tenho de dizer ao Sr. Presidente da República é que vamos ser exigentes com ele", sublinhou, ressalvando, contudo, que a Aliança está "ao lado" de Marcelo.
"A Aliança não é oposição ao sr. Presidente da República, nem quer ser", frisou, lembrando que tem estado ao lado de Marcelo quando este tem sido atacado, nomeadamente nos casos do bairro da Jamaica, no Seixal, ou no caso do furto de armas em Tancos.
Santana não perdoa Sampaio
Também Jorge Sampaio foi alvo de críticas. Isto porque, segundo o líder da Aliança, o país poderia estar "muito diferente", para melhor, se o antigo Presidente da República não tivesse dissolvido o Parlamento em 2004, o que provocou a queda do governo PSD e levou a novas eleições, ganhas por José Sócrates.
"Se o então Presidente da República, em 2004, não tivesse feito o que fez, o país estaria hoje muito diferente, de certeza absoluta."
Cerca de mil delegados, observadores e convidados vão reúnem-se este sábado e domingo em Évora para o congresso fundador do partido Aliança , no qual serão eleitos os órgãos nacionais e será aprovada a moção de estratégia global.
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