Coronel João Paulo de Almeida, que comandava a unidade que estava de guarda aos paióis, afirmou, no parlamento, que as averiguações indiciam que "houve um período sem rondas".
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"Não é uma questão de as rondas serem montadas ou não montadas, não houve rondas", disse, esta quarta-feira, na comissão parlamentar de inquérito sobre as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, o coronel de Engenharia João Paulo de Almeida, antigo comandante do Regimento de Engenharia nº 1 (RE1).
Segundo este oficial - que entrou em funções em julho de 2016 e que comandava a unidade que estava de guarda aos paióis no momento do assalto, na madrugada de 27 para 28 de junho de 2017 -, a última ronda de segurança feita pelos militares presentes no perímetro dos Paióis Nacionais de Tancos aconteceu ao "início da noite do dia anterior", sendo que a ronda seguinte só terá sido feita, depois, ao início da tarde.
"Os processos de averiguações que foram levantados apontam como tendo sido feita a última ronda do serviço anterior no início da noite desse dia [27 de junho], e a primeira daquele dia [28 de junho] na tarde desse dia", detalhou o militar, em resposta ao deputado Jorge Machado, do PCP, que questionou ainda se não teria sido "tempo demais" sem qualquer ronda. "É", confirmou o oficial.
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Antes, em resposta ao deputado António Carlos Monteiro, do CDS-PP, o coronel de Engenharia João Paulo de Almeida já tinha afirmado que, em regra, havia "rondas e viatura" quando era necessário e que, "no mínimo sete vezes por dia" estava disponível uma viatura para quando fosse necessário usar na realização das rondas por parte dos militares.
Ontem, ouvido na comissão de inquérito, o coronel de Engenharia João Manuel Pires, que antecedeu João Paulo de Almeida no comando do Regimento de Engenharia nº 1, já tinha afirmado que teria havido uma falha da unidade, defendendo que não seria normal uma ausência de rondas durante quase 24 horas.
"Quando refiro que há uma falha da secção, há mesmo uma falha. Quando durante 20 horas não se faz uma ronda, não posso tirar outra conclusão a não ser que há uma falha nossa, neste caso, da secção", respondeu o antigo comandante do RE1. Confrontado com estas declarações pelo social-democrata Carlos Abreu Amorim, o coronel João Paulo de Almeida negou que a falha tivesse qualquer relação direta com o furto.
"Há uma falha disciplinar, mas não consigo fazer a relação causa efeito", disse, acrescentando depois: "Não sei se há relação causa efeito entre este período de tempo e o roubo".
Em janeiro de 2018, o Exército concluiu quatro processos disciplinares abertos na sequência do furto. A pena mais gravosa foi aplicada a um sargento do regimento de Engenharia nº 1, por ser sido provado que "não mandou fazer as rondas como estava previsto na norma de execução permanente".
Instalações em Tancos eram "alvo de preocupação"
Durante a audição, o coronel de Engenharia deu ainda conta das falhas de segurança nos Paióis Nacionais de Tancos: "Principalmente as condições físicas relativamente à segurança. A barreira física daquelas instalações era constituída por duas redes - uma interior e outra exterior, que distavam cinco metros - que estavam em muito mau estado. As torres também se encontravam em muito mau estado".
Mas, segundo o militar, tal foi sendo informado, com maior ou menor regularidade, aos superiores hierárquicos, por via de alguns "relatórios periódicos" que eram enviados para a Brigada de Reação Rápida, existindo também outros relatórios que não eram periódicos: "Eu também fiz alguns. Se obtive resposta direta aos relatórios? Não obtive, mas sabia que eram enviados para o escalão superior".
Mais tarde, viria a dizer aos deputados que "havia resposta", salientando, no entanto, que a velocidade "não foi a suficiente para impedir" o furto. "Mas, sabemos que havia algo a ser feito para melhorar as instalações", acrescentou.
Em resposta ao socialista Ricardo Bexiga, a quem detalhou que os aspetos físicos das instalações eram "alvo de preocupação", o coronel João Paulo de Almeida disse ainda não estar em condições para responder de "forma objetiva" sobre se as deficiências das instalações tinham sido determinantes para o assalto.
"Os alojamentos também estavam bastante degradados, o que contribuía para a falta de eficácia da missão que estávamos a desempenhar", lembrou ainda o militar, que foi um dos cinco comandantes exonerados temporariamente após o furto de material militar. Sobre a exoneração decidida pelo então chefe do Estado-Maior do Exército, o general Rovisco Duarte, conta: "Uma das razões era a de criar condições para que processos de averiguações decorressem com normalidade e transparência".
A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos tem previstas audições a 63 personalidades e entidades. Decorre durante 180 dias, até maio de 2019, e é prorrogável por mais 90 dias, para que se possa chegar a conclusões.