Pacheco Pereira responsabiliza ACT por "fechar os olhos" às condições laborais "inaceitáveis" dos imigrantes

Foto: DR (arquivo)
No Programa O Princípio da Incerteza, em que a Operação Safra Justa esteve em cima da mesa, Pacheco Pereira refere que estas situações "são conhecidas há muitos anos", Alexandra Leitão fala em "falta de humanismo" e Pedro Duarte aponta "falhas na política migratória"
Corpo do artigo
O historiador José Pacheco Pereira responsabiliza a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) por ter "fechado os olhos" às condições laborais das herdades onde trabalhavam os imigrantes. A Operação Safra Justa, que teve como alvo uma presumível rede que escravizava imigrantes no Alentejo, subiu a debate no programa O Princípio da Incerteza, da TSF e da CNN Portugal.
Segundo a investigação da Polícia Judiciária, os imigrantes passaram dois anos a serem explorados nos campos agrícolas. Catorze dos 17 detidos, incluindo os militares da GNR e o agente da PSP vão aguardar o julgamento em liberdade. Já os outros três homens ficaram em prisão preventiva.
Para Pacheco Pereira, "estas situações são conhecidas há muitos anos, há denúncias muito significativas há pelo menos dois ou três anos e apanha governos do PS e governos do PSD". "A pergunta que tem de se fazer é: Porque se fechou os olhos?", questiona.
"Já se sabia que alguns imigrantes eram espancados, que as condições em que viviam eram absolutamente miseráveis, que havia guetos em muitas zonas, em particular, do Alentejo, mas sabia-se também uma coisa fundamental: é que as condições de trabalho, principalmente na agricultura, eram inaceitáveis num regime democrático. Temos uma Autoridade para as Condições de Trabalho e ela não viu isto nos últimos dois anos", critica.
O historiador considera que "há uma cumplicidade objetiva de autoridades locais, autarquias, entidades policiais e entidades do Estado" e teme que "as coisas voltem ao mesmo" quando este caso "deixar de ser novidade".
Na mesma linha de pensamento, a socialista Alexandra Leitão refere o discurso de ódio faz com que o país perca o humanismo. "Somos um povo a perder a capacidade de se indignar e a perder o humanismo. Porquê? Porque os políticos utilizam a imigração como arma de arremesso político e conseguem - como uns estão a ter mais sucesso do que outros - passar a imagem de uma crispação, de um discurso de ódio em torno de pessoas que vivem no nosso país e fazem os trabalhos que mais ninguém faz", afirma.
Alexandra Leitão diz também que "o discurso de ódio que está a ser montado cria o caldo para que estas coisas aconteçam com menor indignação e com uma ausência de humanismo que não compreendo". "Estes imigrantes são as pessoas que em Portugal fazem trabalhos que não há portugueses suficientes para fazer. É muito indignante, é muito repugnante, entristece-me bastante", lamenta.
Já o social-democrata Pedro Duarte considera que esta operação veio confirmar uma falha na política migratória: "Expõe uma degradação humana absoluta. Vemos empregadores absolutamente sem escrúpulos, aparentemente autoridades que deviam ter uma responsabilidade acrescida e que são também corrompidas, é degradante a todos os níveis. Também expõe uma falha na nossa política migratória."
Por outro lado, o autarca do Porto acredita que "a sociedade não se conformou". "Eu pelo menos não fazia ideia que isto acontecia, os portugueses não sabiam que isto acontecia. Apesar de tudo, as instituições atuaram, investigaram e cumpriram o seu papel", acrescenta.
