Na comissão de inquérito a Tancos, o Major-General Nunes da Fonseca considerou que a falta de meios não justifica o assalto e defendeu que os militares que estavam em funções devem ser responsabilizados.
Corpo do artigo
Ao longo de uma audição em que saiu em defesa da estrutura militar e dos militares, a quem elogia a "competência" e o "voluntarismo", o Major-General Luís Nunes da Fonseca, atual Inspetor-Geral do Exército (IGE), afirmou, na comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar em Tancos, que a falta de recursos ou de investimento no Exército não pode justificar o assalto.
"Todos estes aspetos não podem justificar aquela falha. Há uma falha de procedimentos e não podemos justificar-nos e dizer que não houve meios ou dinheiro. Há aqui um aspeto fundamental, é que não houve brio e profissionalismo, caso se verifique aquilo que se lê e diz na comunicação social", disse.
Segundo o oficial que, no momento do furto, ocupava o cargo de comandante da Brigada Mecanizada em Santa Margarida - e que ao longo da audição salientou que soube de grande parte dos pormenores sobre o assalto pela comunicação social -, houve uma "falta de cumprimento dos deveres" por parte dos militares em funções na madrugada de 27 para 28 de junho de 2017. "Não fizeram o seu trabalho. Há razões que, porventura, estão subjacentes a estas falhas", sublinhou.
Na comissão de inquérito, o Major-General Luís Nunes da Fonseca admitiu que "nem todos cumpriram o trabalho", mas defendeu que esse "não é o padrão" que existe no Exército. Quanto às responsabilidades pelo ocorrido, entende que devem ser acolhidas pelos militares.
"Como militar com cerca de 40 anos de serviço militar, o acontecimento de Tancos afetou-nos profundamente. Não podemos escusar-nos às responsabilidades que temos nesta ocorrência. Ficámos perplexos", afirmou.
Perante dos deputados, que voltaram a perguntar pelas falhas no sistema de videovigilância, o Inspetor-Geral do Exército considerou que a ausência deste sistema "não é razão" suficiente para justificar o assalto. "Não impedia que os militares fizessem o seu dever", disse, acrescentando que a ausência destes dispositivos não seria "limitativa" para o cumprimento das funções.
Nesse sentido, considera que o caso "deve ser investigado" e que há aspetos ligados à segurança que são "graves". "Há nódoas. Se foi assim, têm de ser chamados à responsabilidade", disse, antes de insistir na ideia de que, de um modo geral, os militares são "empenhadíssimos".
Problema fundos e falta de investimento aprofundou problemas
Questionado pelos deputados sobre os investimentos feitos ao longo dos anos no perímetro de Tancos - e sobre a "prioridade" dada ao investimento nos Paióis Nacionais -, o Major-General Luís Nunes da Fonseca disse acreditar que a hierarquia militar "resolveu os problemas com a seriedade que se impunha", e defendeu que o reforço da segurança não terá ocorrido por falta de verbas.
"Certamente que é um problema de fundos de encontrar a fonte de investimento", assegurou.
Aos deputados da comissão parlamentar de inquérito, o antigo comandante da Brigada Mecanizada disse ainda acreditar que as obras necessárias seriam realizadas. "A perceção que tínhamos do problema da vulnerabilidade das instalações de Tancos - e não só - era de que estava a ser perfeitamente encaminhado pela tutela", salientou.
A comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar em Tancos tem previstas audições a 63 personalidades e entidades. Decorre durante 180 dias, até maio de 2019, e é prorrogável por mais 90 dias, para que se possa chegar a conclusões