No dia em que Mario Draghi participa na reunião do Conselho de Estado, a TSF ouviu os eurodeputados Paulo Rangel e Maria João Rodrigues para perceber quem é e o que pensa o homem forte do BCE.
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Um homem ousado e de fortes convicções, por vezes duro, mas também alguém com uma mente aberta, recetivo a ouvir argumentos válidos e a dialogar. E, sobretudo, alguém com um profundo conhecimento sobre a realidade europeia.
É desta forma que Paulo Rangel, eurodeputado do PSD, e Maria João Rodrigues, eurodeputada eleita pelo PS, em declarações à TSF, descrevem o presidente do Banco Central Europeu (BCE).
Paulo Rangel revela a ideia com que ficou nas várias vezes reuniões em que se cruzou com o banqueiro central: "Corresponde muito à sua forma de atuar e à sua personalidade. É, em certa medida, um italiano não típico, porque é extremamente conciso, direto, até um pouco duro, no sentido em que vai muito focado aos pontos que tem de ir. Mas é, claramente, alguém que tem uma visão da Europa que de maior integração".
O eurodeputado considera, no entanto, que apesar de alguma dureza e de apresentar traços mais "anglo-saxónicos" do que do sul da Europa, Mario Draghi é tudo menos intransigente, havendo "abertura" para o debate e até uma "possibilidade de revisão" no caso de um novo argumento. "Se alguém apresentar um novo argumento que seja bom", salienta.
Em Portugal, o presidente do BCE deve ser confrontado, logo ao almoço, com alguns argumentos por parte do presidente da República, do primeiro-ministro e do governador do Banco de Portugal, numa visita que, defende a eurodeputada socialista Maria João Rodrigues, é a prova de que o Mario Draghi não descura a situação portuguesa.
"Mostra um atitude claramente positiva, empenhada e construtiva de Mario Draghi em relação ao caso português, porque, de outro modo, a visita não teria lugar", sublinha a vice-presidente da bancada socialista no Parlamento Europeu.
Maria João Rodrigues considera ainda que Mario Draghi tem sido o homem certo para o exercício do cargo durante uma fase difícil para a Europa: "Por um lado, grande solidez técnica, mas, ao mesmo tempo, abertura mental para considerar soluções não convencionais que são, de facto, mais ousadas".
Atributos de uma personalidade que, sublinham os dois eurodeputados, revela um conhecimento "exaustivo" da realidade europeia e que, à frente do BCE, tem deixado uma marca de coragem e convicção.
Almoço "interessante" e para deixar recados
Maria João Rodrigues acredita que não será na reunião do Conselho de Estado que Mario Draghi falará sobre a situação da banca portuguesa e sobre casos como o BES ou o BANIF. Para a eurodeputada, será antes, ao almoço - que junta Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Carlos Costa - que o líder do BCE fará valer a sua opinião.
"O BCE teve intervenções marcantes em relação a casos como o BES, Novo Banco ou BANIF. Não creio, no entanto, que a reunião possa ir muito ao concreto na reunião do Conselho de Estado. Certamente essa conversa será bastante mais concreta no almoço que irá preceder essa reunião", afirma a eurodeputada, que considera "interessante que à volta da mesma mesa possam juntar-se "atores que, em qualquer caso, vão desempenhar um papel chave no saneamento do sistema financeiro e bancário português".
Por outro lado, Paulo Rangel acredita que Mario Draghi vai aproveitar o almoço para deixar alguns recados sobre política orçamental: "Eventualmente não deixará de chamar a atenção para alguns riscos em que Portugal se está a pôr. O risco de uma descida de rating, que tem aparecido quer nos relatórios do FMI quer em alguns alertas da DBRS (agência de notação financeira). Esse alerta não tenho dúvidas de que o fará, pois é uma preocupação cimeira do BCE".
O Jornal de Negócios avança que a necessidade de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, admitida recentemente por António Costa, poderá mesmo ser prato principal deste almoço.
O valor de dois mil milhões de euros estimados para essa recapitalização necessita de algumas autorizações em Bruxelas e o jornal entende o almoço como uma oportunidade de lóbi, junto do regulador europeu, para que Draghi assuma as dores de Portugal nesta matéria.
Entre os restantes temas deve estar a venda do Novo Banco e a mudança de acionistas do BPI, tal como a TSF já tinha avançado.