A estratégia de Costa, segundo Rio, no "Conselho Nacional mais pacífico até hoje"
Numa noite fresca na Guarda, os termómetros do Conselho Nacional do PSD não subiram. Rio apela à união para as autárquicas e diz que Costa ataca PSD para colar os cacos da "geringonça". Ainda a reunião ia a meio, já aos microfones dos jornalistas se falava no "Conselho Nacional mais pacífico até hoje".
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Não vão muito longe os tempos em que se falava em "golpes palacianos" no PSD, mas a realidade no partido parece estar substancialmente diferente. No primeiro Conselho Nacional do ano (o segundo desde que Rio foi reconduzido presidente), a temperatura não aqueceu como noutros tempos, apelou-se à união e ninguém se atravessou no caminho da direção. Afinal, as autárquicas estão ao virar da esquina e Rio confia que o PSD até pode vir a beneficiar de um eventual descontentamento em relação à gestão de António Costa.
No discurso que fez, apurou a TSF, o presidente do PSD pegou nas últimas intervenções que tem feito e juntou-as numa só: o partido tem boas condições para subir nas autárquicas, o objetivo é relançar o partido e existe a expectativa de um bom resultado autárquico, estando Rui Rio convencido de que o desgaste do governo vai penalizar o PS.
Até aqui, tudo em linha com as intervenções que tem vindo a fazer, por exemplo, nas apresentações de candidatos autárquicos onde até tem mencionado que as próximas eleições são uma boa ocasião para mostrar um cartão ao governo (ainda que abaixo do amarelo, na linguagem futebolística).
Resgatando o discurso que foi fazer à Convenção do MEL, Rui Rio insistiu na ideia de um PS como partido "mais conservador do sistema" que não quer reformar ou mudar nada. A "inovação" veio em seguida: Rio acredita que Costa insiste nos ataques ao PSD, não por acreditar verdadeiramente neles, mas por conveniência.
Aos conselheiros, de acordo com o que a TSF apurou, Rui Rio notou que António Costa só diz o que diz porque o Bloco de Esquerda e o PCP se estão a afastar do governo. Para o líder social-democrata, a estratégia do primeiro-ministro é a de acalmar e de agradar os antigos parceiros da "geringonça".
E se esta é a estratégia de António Costa, segundo Rui Rio, a do líder do PSD é mesmo a de que não haja nenhum turbilhão interno até às eleições. De resto, José Silvano deu nota disso mesmo a meio do Conselho Nacional em declarações aos jornalistas: "este combate vai ter de nos unir a todos até, pelo menos, finais de setembro/inícios de outubro".
"É isto que pedimos aos conselheiros, se o objetivo é este, nada nos vai desviar deste caminho", notava o secretário-geral do partido aos microfones.
Vincando este apelo à união feito por Rui Rio, José Silvano aproveitou a ocasião para notar que "todos agora estão cientes do objetivo que tem de se atingir e que são eleições autárquicas". Ainda assim, a fasquia continua sem estar quantificada: Rui Rio só diz que quer "mais presidências de câmara, mais mandatos, mais implantação".
Já em jeito de farpa para eventuais críticos, Silvano diz que "deste conselho nacional vai sair tudo ao contrário do que era previsível". "Como costumo dizer às vezes, muito falatório na rua e poucas concretizações em casa. Pelo menos, até ao momento, é o conselho nacional mais pacífico que tivemos até hoje", notou. E assim foi...
Conselho de Jurisdição, o tema tabu
Antes da reunião, havia uma grande expectativa sobre o "episódio do Conselho de Jurisdição". Já durante o encontro, o assunto foi tema entre os cigarros dos conselheiros à porta do Teatro Municipal da Guarda onde reuniu o Conselho Nacional do PSD pela primeira vez em 2021. Mas, lá dentro, imperou o silêncio.
Paulo Colaço, presidente do Conselho de Jurisdição do PSD, esteve na reunião do início ao fim à espera que o tema surgisse, mas saiu como entrou: sem falar sobre o assunto.
Ainda esta semana, o líder parlamentar Adão Silva, que foi visado pela Jurisdição, anunciou o recurso para o Tribunal Constitucional da advertência que lhe foi imposta. No entanto, neste Conselho Nacional foi como se nada se tivesse passado.
A reunião na Guarda terminou já passava das duas e meia da manhã e, à saída, um dos participantes comentava que tinha sido "calminho", mas logo outro em seguida pensava mais à frente: "vamos ver o próximo". Para já, as baterias de todos, mais ou menos alinhados, estão mesmo apontadas para as autárquicas, tendo um conselheiro sintetizado no final da sua intervenção: "Boa noite a todos e, epá, vamos à luta".
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