Ordem dos Médicos está preocupada com um fenómeno de receio a que se junta a progressiva incapacidade dos hospitais, cheios de trabalho com a pandemia, para tratar pacientes de outras doenças que também são prioritários.
Corpo do artigo
A Ordem dos Médicos está preocupada com o elevado número de doentes que têm medo de ir aos hospitais por causa da pandemia de Covid-19, mas também com a crescente falta de capacidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para tratar alguns doentes prioritários de outras doenças.
Admitindo que podemos estar a achatar a curva da infeção pelo novo coronavírus mas a deixar aumentar uma outra curva com muitas outras doenças, o bastonário, Miguel Guimarães, apresenta à TSF o exemplo dos seus doentes. Por causa da Covid-19, os doentes menos graves têm indicação para não ir aos hospitais, mas os mais graves devem continuar a ir quando é necessário.
"No outro dia marquei uma série de doentes para ir ao hospital, daqueles mais graves, incluindo da área oncológica, e apareceu para aí um terço. Os outros disseram que não iam", relata Miguel Guimarães.
O bastonário acredita que a tal curva do outro lado, a das doenças que não a Covid-19, "já está a subir", nomeadamente pelos receios de doentes igualmente prioritários em ir aos hospitais, sobretudo se for um hospital grande com muitas pessoas internadas com o novo coronavírus.
TSF\audio\2020\04\noticias\06\06_abril_nuno_guedes_medo_da_covid_m2
Recorde-se que, na última semana, foi notícia um aumento da mortalidade em março e uma queda a pique da procura por urgências hospitalares que leva os especialistas a questionar onde andam, afinal, os casos graves do passado.
Duas corridas de fundo ao mesmo tempo
Uma segunda preocupação da Ordem dos Médicos está na falta de capacidade do SNS para responder à Covid-19 e a tudo o resto que antes se fazia e tem de continuar a ser feito.
Miguel Guimarães diz que tem tido "muita gente, mas muita gente, desde médicos a pacientes, a relatar que alguns doentes não-covid, aqueles que acompanhávamos habitualmente antes da pandemia, estão a ver adiadas cirurgias que podem ser importantes".
O bastonário sublinha que estes são "doentes prioritários", "com janelas terapêuticas curtas", nomeadamente porque os blocos operatórios estão a ter cada vez menos margem para as cirurgias, com alguns a serem ocupados com camas para doentes da Covid-19.
Máscaras e telemóveis
Para resolver o problema do receio das pessoas em ir aos hospitais, associado ao risco realmente acrescido de apanhar a doença nestes espaços que está convencido que existe, o bastonário defende que em todos os serviços de saúde com mais pessoas todos os profissionais de saúde e doentes devam andar de máscara cirúrgica.
Em paralelo, a Ordem dos Médicos tem recebido muitas queixas, durante esta pandemia, de clínicos que têm de usar o telemóvel pessoal nos contactos com os doentes estejam ou não em teletrabalho e mesmo para contactar os doentes quando os médicos estão fisicamente nos serviços de saúde onde as operadoras que fazem as chamadas para o exterior estão, naturalmente, carregadas de trabalho.
A Ordem dos Médicos já fez um levantamento das necessidades e falou com as operadores de telecomunicações que estão disponíveis para oferecer mais minutos aos médicos e enfermeiros nos seus telemóveis pessoais para ajudar a combater a pandemia.
12034632