Abusos sexuais. Representante do Vaticano acredita em "sinal de esperança" para a igreja
A Comissão Independente sobre os casos de abuso na Igreja Católica revelou que foram validados 512 casos de 564 testemunhos recebidos.
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Hans Zollner, representante do Vaticano, esteve na apresentação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, realizado ao longo do ano passado. Faz parte da Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores, tem acompanhado esta investigação em Portugal e acredita que há um sinal de esperança para a igreja.
"Infelizmente a proporção dos abusos, tal como as histórias, são muito familiares para mim porque se têm repetido em todos os cantos do mundo. De qualquer forma à uma atenção crescente à necessidade de nos confrontarmos com este passado e isso, paradoxalmente, é um sinal de esperança para esta igreja. Quanto a uma eventual compensação financeira, isso tem a ver com a situação do país. Há muitas fórmulas diferentes para o fazer, depende muito dos contextos legais e culturais em que tudo aconteceu. Não excluo essa indemnização, mas não me compete decidir", reconheceu Hans Zollner.
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Esta segunda-feira, na sessão de apresentação do relatório desta Comissão Independente sobre os casos de abuso na Igreja Católica desde 1950, Pedro Strecht revelou que foram validados 512 casos de 564 testemunhos recebidos, apontando a extrapolação de um número mínimo de vítimas da ordem das 4815.
O espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão estendeu-se de 1950 a 2022, tendo o grupo de Pedro Strecht começado a receber testemunhos em 11 de janeiro do ano passado.
Os casos de abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa, num ano em que a Igreja se vê agora envolvida também em controvérsia, com a organização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.
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Será conhecida, esta segunda-feira, a primeira reação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), presidida pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, e para 3 de março foi já convocada uma assembleia plenária extraordinária da CEP para analisar o relatório.
Liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, a comissão independente é ainda constituída pelo psiquiatra Daniel Sampaio, pelo antigo ministro da Justiça e juiz conselheiro jubilado Álvaro Laborinho Lúcio, pela socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, pela assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e pela cineasta Catarina Vasconcelos.