Discutir abusos na JMJ? Investigadora defende que é o "melhor lugar para discutir problema"
Ana Nunes de Almeida incentivou os bispos e sacerdotes portugueses a tomar a palavra para falar deste problema durante a Jornada Mundial da Juventude.
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A investigadora Ana Nunes de Almeida mostrou-se "chocada" com as declarações do padre Filipe Diniz, responsável pela pastoral juvenil, que disse que o relatório sobre os abusos sexuais não deveria afetar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Para a investigadora, a JMJ é precisamente o local para discutir estas questões.
"O papa já tem dado muitos recados e quem somos nós para lhe fazer recomendações, mas faria aos bispos e sacerdotes portugueses: para que tomassem a palavra para falar deste problema. Durante o trabalho de campo houve muito poucos bispos ou sacerdotes que, na sua missa ou atividades pastorais, alertassem para este problema e fizessem um apelo ao testemunho. Esta atitude típica de considerar que é qualquer coisa de estranho tem vindo, na última semana, a vir a lume com declarações com as quais fiquei absolutamente chocada. O diretor da pastoral juvenil da JMJ dizer que os resultados do relatório não vão afetar, de certeza, a JMJ... Há ou não melhor lugar para discutir este problema do que a JMJ? Este para mim é um sinal do alheamento. Como não vai afetar?", questionou Ana Nunes de Almeida no final da apresentação das conclusões do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
Já Pedro Strecht afirmou que as vítimas esperavam um perdão dos abusadores - o que é difícil porque as pessoas com esse perfil não tomariam essa atitude - ou da igreja como um todo. Nas suas recomendações para a Igreja, a comissão defende que a instituição devia pedir perdão e até pode ser um gesto simbólico.
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"Não é preciso um memorial de cinco milhões ou 30% menos", comentou, numa alusão ao altar-palco da Jornada Mundial da Juventude. Pedem qualquer coisa que perdure e já foi feita uma proposta à Conferência Episcopal Portuguesa, que ficou de analisá-la ou propor uma melhor.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica apresentou esta segunda-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o relatório do trabalho iniciado em 11 de janeiro de 2022.
A Comissão, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, foi criada por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, numa decisão tomada no final de 2021.
Os casos de abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa, num ano em que a Igreja se vê agora envolvida também em controvérsia, com a organização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.
Notícia atualizada para corrigir o nome do responsável pela pastoral juvenil