"Afastamento preventivo" de abusadores. APAV estranha que Igreja não siga as mesmas regras que outros setores
Para a APAV, o "afastamento preventivo" de alegados abusadores da Igreja é "fundamental" por uma questão de "salvaguarda de potenciais vítimas" e de "valorização do seu relato e sofrimento".
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A Associação de Apoio à Vítima (APAV) estranha a resistência da Igreja em afastar os alegados padres abusadores de menores. Carla Ferreira, da APAV, não compreende porque é a Igreja Católica não segue as orientações que existem para outros setores, que ditam que, sempre que há um caso suspeito, deve haver um afastamento preventivo do alegado prevaricador.
"Por uma questão de salvaguarda de potenciais vítimas e de valorização do relato da vítima e o seu sofrimento, mas também por uma questão de credibilidade da própria Igreja Católica, o afastamento preventivo, a partir do momento em que há a suspeita, continua a ser fundamental", explica, em declarações à TSF, relembrando que esta é uma prática aplicada em outros setores da sociedade, como a educação ou o desporto.
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Carla Ferreira teme que o não afastamento e a não existência de consequências imediatas perante as denúncias de abusos possa fazer com vítimas presentes e futuras não denunciem.
"As pessoas têm mais tendência a denunciar aquilo que vivenciaram se sentirem confiança no sistema e nas ações adotadas após a sua comunicação. Se as pessoas perceberem que, de alguma forma, o seu relato pode não ser valorizado ou que a sua situação pode não ser tida em consideração, há possibilidade que haja aqui um decréscimo de denúncias", considera.
Questionada sobre as declarações de Manuel Clemente, que considerou que possíveis indemnizações seriam um "insulto" às vítimas, Carla Ferreira sublinha que uma indemnização é apenas um complemento e não apaga o sofrimento das vítimas.
"A indemnização é um complemento que não vai, de todo, diminuir o sofrimento das vítimas. Esta indemnização é um dos mecanismos de compensação que as vítimas podem beneficiar e não o único mecanismo de compensação. Para nós, essa questão não se coloca, obviamente as vítimas não são obrigadas a aceitar essa indemnização, isto não é um mecanismo forçado, é um mecanismo que deve ser colocado ao dispor para que as pessoas possam beneficiar desse mecanismo, pese embora isso não substitua o apoio e toda a cultura de tolerância zero que se deve instituir", sublinha.