Indemnizações "insultuosas"? A "indignação", a "revolta" e um protesto "gritante" após declarações da Igreja
No programa O Princípio da Incerteza, da TSF e CNN Portugal, Alexandra Leitão e António Lobo Xavier criticam a conferência de imprensa dos bispos portugueses, em Fátima, e as declarações de Manuel Clemente. O cardeal patriarca de Lisboa considera que indemnizar as vítimas de abusos sexuais seria "insultuoso".
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A antiga ministra e deputada do PS Alexandra Leitão criticou as declarações do cardeal patriarca de Lisboa em relação às eventuais indemnizações a dar às vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja.
Manuel Clemente considerou, este domingo, que seria "insultuoso" para as vítimas que a Igreja Católica as indemnizasse e afastou a hipótese de suspender preventivamente os padres denunciados como abusadores enquanto a investigação prossegue, remetendo essa responsabilidade para o Vaticano.
No programa da TSF e da CNN Portugal, O Princípio da Incerteza, a deputada socialista Alexandra Leitão sublinhou que a posição da Igreja é que é insultuosa.
"Acho que muita gente sentiu indignação e revolta ao ouvir aquela conferência de imprensa. Além do tom burocrático e pouco empático, considero que os resultados que foram dados chegam a ser insultuosos para com as vítimas e a própria comissão independente. Não afastar as pessoas que estão indicadas naquela lista e que resultam de denúncias que a comissão independente considerou credíveis põe em risco aquelas crianças e jovens com quem eles estão a contactar", afirmou.
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Alexandra Leitão relembrou também a questão das indemnizações. "O senhor cardeal patriarca veio dizer que a indemnização até era insultuosa para as pessoas. Ninguém está aqui a pedir a dinheiro, mas entender-se que a Igreja não tem que se responsabilizar objetivamente pela reparação daqueles danos - e quiçá subjetivamente - acho que foi um momento mau para a Igreja", defendeu.
A deputada do PS considerou ainda que a Igreja deu dois passos atrás depois de ter recebido da Comissão Independente a lista com os nomes dos padres denunciados, ficando aquém das posições tomadas pela Igreja Católica noutros países onde foram investigados abusos sexuais.
Já para António Lobo Xavier a conferência de imprensa dos bispos em Fátima, na sexta-feira, foi uma desilusão.
"Em lugar daquilo que esperávamos, que eram medidas preventivas, cautelares, uma conferência de imprensa centrada nas vítimas, no futuro e nas formas de evitar que esta tragédia se repetisse, os bispos, mal aconselhados, vieram com frases de redações escolares de quinta ordem de estudantes de direito. Eram umas balelas sobre o princípio da inocência e o trânsito em julgado. Depois também vieram com uma teoria, uma redação de aluno do segundo ano, sobre a imputação de responsabilidade pelo dano", disse.
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"Transformaram declarações, que deviam ser de dignidade e de purificação, em conversas sobre o que é da justiça, algo que estamos habituados a ver noutra dimensão da política e que são profundamente dececionantes", reforçou Lobo Xavier, sugerindo que a população saia à rua em protesto: "Talvez a hierarquia da Igreja Católica só perceba os caminhos de dignidade e purificação com uma manifestação gritante e indignada à porta dos espaços episcopais a pedir purificação e dignidade nos discursos e nos atos."
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