Quatro anos antes do início da emissões regulares, a TSF já tinha feito emissões piratas experimentais, em 1984. O primeiro estúdio funcionou na Rua da Ilha do Pico, no centro de Lisboa. E alguns vizinhos ainda são os mesmos.
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Não foi nas Amoreiras, nem na Avenida de Ceuta, tão pouco na Matinha onde está atualmente. A TSF nasceu na cave do número 32 da Rua da Ilha do Pico, em Arroios, Lisboa.
Era "uma cave muito jeitosa" constituída por quatro assoalhadas, recorda Maria da Conceição, 86 anos, moradora no bairro e antiga funcionária da fábrica de malhas que ali funcionou antes da rádio pirata.
"Trabalhei aqui 22 anos. O dono era meu cunhado, depois vendeu a cave ao Emídio Rangel e só depois é que mudaram para as Amoreiras", recorda a antiga funcionária.
Na fábrica eram produzidas "camisolas, casacos e fatos de banho" para vender nas lojas da capital. Hoje, o espaço está modificado. "Andaram lá grandes obras e já foi vendida a outras pessoas", esclarece a antiga vizinha da TSF. Quando batemos à porta (a campainha não funciona), ninguém atendeu.
Cristina Brás também mora perto, no número 34, logo acima nas escadinhas. Recorda-se que o primeiro estúdio da TSF "era uma coisa muito discreta" e lembra, com saudade, Emídio Rangel e os companheiros de aventura radiofónica. "Eram espetaculares, um grupinho de pessoas muito educadas, meigas, sensíveis".
Outro ex-vizinho da TSF, Carlos Teixeira, 75 anos, assistiu a um episódio caricato. Certo dia, "o doutor Rangel e outra pessoa da rádio bateram à minha porta entraram pelo hall dentro pensando que ali era a TSF. A minha mulher perguntou-lhes o que queriam e só depois é que eles se aperceberam de que a rádio era no prédio de baixo. Pediram desculpa e foram embora".
A meio da rua, está o Talho das Escadinhas, agora propriedade de Manuel Alves, que há três décadas era funcionário do espaço.
"Ouvia-se a TSF mas ninguém sabia que era aqui. Só quem cá vivia", recorda. Manuel também se lembra de conversar com Emídio Rangel. "Ele vinha cá de manhã e dizia que ia dar o telejornal para Macau. A gente dava-se bem com ele".
Passados 34 anos, a Rua da Ilha do Pico "está muito diferente", diz o talhante. "Não há comércio nenhum, está tudo fechado, metade dos prédios não têm gente", lamenta.
Cristina diz que "as pessoas são as mesmas" e Carlos defende que a rua "continua igual mas com menos gente por causa das rendas altas".
Um dos moradores mais jovens da rua é Francisco, de 11 anos. Mora no andar imediatamente por cima da cave e acha que a rua "é calma, é fixe". Mas também ele, ao ver lojas abandonadas, sente falta de mais comércio: "O que eu gostava é que esta rua tivesse era uma loja da Apple".