Bebés infetados com bactéria multirresistente no serviço de neonatologia do Hospital de Santa Maria
Apesar de o serviço de neonatologia "não estar fechado", não são aceites novas admissões.
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Entre dez a 12 bebés internados no serviço de neonatologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, testaram positivo para a presença de uma bactéria multirresistente, segundo confirmou uma fonte do hospital à TSF.
Apesar de terem testado positivo, todas as crianças estão "estáveis".
A mesma fonte sublinha ainda que o serviço de neonatologia "não está fechado": todas as crianças que estavam internadas continuam internadas, no entanto, devido à presença desta bactéria, não há novas admissões.
Segundo referiu o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) à Lusa, os bebés "não foram nem vão ser transferidos" para outros hospitais.
"A resposta nesta área é assegurada por meios internos do CHULN e através de articulação com a rede durante os procedimentos de boas práticas necessários para resolver a situação", garantiu.
O diretor do serviço de doenças infecciosas do Hospital de Santa Maria explica à TSF que a bactéria encontrada nestes recém-nascidos, na sua estirpe mais vulgar, é tratada facilmente, no entanto, e como esta estirpe é mais resistente, os medicamentos utilizados terão de ser diferentes dos habituais.
"O tubo digestivo destas crianças, a sua flora habitual, incorpora esta bactéria, mas algumas delas - algumas estirpes - têm este mecanismo de resistência, o que significa que se desenvolverem infeções, vão ter de ser administrados antibióticos que também tratem, matem esta bactéria, que pode escapar dos outros antibióticos", esclarece.
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Álvaro Ayres Pereira garante que nenhuma criança está com qualquer tipo de problema causado por esta bactéria e que, aquando a primeira deteção, a preocupação dos médicos era muito residual, avançando que a maioria dos recém-nascidos está "colonizado" com a bactéria.
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"Desconfiou-se que podia haver, por uma situação muito pontual e sem nenhuma gravidade numa criança, e testaram-se as crianças todas e detetamos a existência deste surto de crianças colonizadas [com a bactéria]. Neste momento não há nenhuma situação clínica atribuída a esta bactéria", avança.
O médico afirma que esta é uma bactéria vulgar que não é mais perigosa por ser multirresistente.
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"Esta bactéria tem esta particularidade: tem um mecanismo de resistência. Se elas saírem do intestino e provocarem infeção, nesse caso temos de usar antibióticos diferentes dos usados habitualmente. Ela não é mais perigosa do que as outras, mas quando provoca infeção, será mais difícil de tratar se não tivermos antibióticos apropriados, que neste momento até temos disponível no hospital", insiste.
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Sobre a quantidade de tempo que esta bactéria pode ficar no corpo das crianças, o médico diz que há pouca informação. Em adultos, por exemplo, pode durar "muitos meses", mas normalmente as bactérias multirresistentes acabam por sucumbir perante outras iguais, que por não terem um mecanismo de resistência, têm outra facilidade em reproduzir-se.
"Habitualmente com a saída do hospital, com uma vida saudável, estas bactérias perdem algum fitness, alguma capacidade de sobreviver e são ultrapassadas pela mesma bactéria que não tem esse mecanismo de resistência. Ao ter maquinaria adicional, em relação às suas congéneres que não a têm, elas podem ter menor capacidade de sobrevivência", adianta.