
Cavaco Silva
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No dia em que passam dois anos do início do segundo mandato, o PR justifica o tipo de intervenção mais recolhida que optou por ter neste segundo mandato no prefácio do livro Roteiros.
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Neste prefácio, Cavaco Silva passa em revista a intervenção presidencial, quer no plano interno quer no plano externo, desde que Portugal assinou o memorando com a troika e diz que «a maior parte dos efeitos da magistratura presidencial não é suscetível de avaliação direta e imediata».
Uma semana após a manifestação "Que se lixe a troika", Cavaco aproveita este prefácio de justificação de uma acção presidencial recatada para responder aos que defendem a reestruturação da dívida pública e o rasgar do compromisso assinado.
Diz Cavaco Silva neste prefácio que quem é partidário dessa opção «ignora os efeitos extremamente negativos» que ela teria. «O Estado, as empresas e os bancos portugueses», escreve o Presidente da República, «seriam afastados por vários anos, porventuras décadas, dos mercados financeiros internacionais».
No seguimento desta ideia, Cavaco sublinha que a situação do país obrigou a que se investisse em bens e serviços «que concorrem com a produção estrangeira» e que isso «exige a redução do sector público, incluindo o sector empresarial do Estado».
Daqui, o chefe de Estado passa a desfiar as intervenções a nível internacional e no plano interno e lembra que andou a dizer pelo mundo que Portugal estava a cumprir, que os portugueses estavam a fazer sacrifícios e a exigir uma política económica europeia mais ativa.
Depois, recorda também que, a nível interno, se preocupou em «preservar os consensos políticos e sociais», em transmitir ao governo objecções, em privado, a alguns diplomas e em promover o investimento privado e as exportações e que disse que tem que haver «justiça na repartição dos sacrifícios» e que é preciso «pôr cobro à espiral recessiva».
Num último capítulo, faz uma espécie de auto-avaliação para concluir que «a maior parte dos efeitos da magistratura presidencial não é suscetível de avaliação direta e imediata».
Cavaco Silva considera que «seria tentador usar a chefia do Estado como palco de atuação de grande efeito», com «intervenções mais ou menos populistas que conquistassem simpatias do momento».
Mas entende que daí só «resultaria prejuizo para o superior interesse nacional». «Seria fácil, por exemplo», diz, «alimentar sentimentos adversos à classe política ou à acção do Governo». Mas acrescenta que esse «não é o entendimento» que tem da acção de um Presidente e portanto, remata, daí não se afastará «nem um milímetro».