"Pediram-me que me demitisse." Ourmières-Widener diz ser "bode expiatório de batalha política"
Na comissão de inquérito à gestão da TAP, a presidente da Comissão Executiva da empresa revelou que reuniu com Fernando Medina no dia anterior a ser demitida em conferência de imprensa.
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A CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener contou esta terça-feira que, no dia anterior a ser demitida, reuniu com Fernando Medina e não lhe foi dito que iria ser afastada. De acordo com a CEO da TAP, o ministro disse-lhe apenas que "a situação estava complicada".
"Ainda é muito doloroso para mim. Pediram-me que me demitisse", revelou a presidente executiva da TAP.
E acrescentou: "Para mim foi uma reunião muito difícil, porque o tom da reunião era bastante triste. Diziam-me que os resultados eram fenomenais e que tinha feito um trabalho fantástico, que era a pessoa certa para o cargo, que o processo tinha sido conduzido de boa-fé pela minha parte. Mas que, tendo em conta toda a pressão de várias partes, não havia outra opção para o Governo que não passasse por travar o avanço do meu mandato."
De acordo com Ourmières-Widener, Fernando Medina explicou-lhe que a demissão era a "única via possível devido à pressão política".
"Foi um choque, não estava à espera. Nem estava à espera da forma como foi feito. Porque quando o ministro me sugeriu demitir-me no domingo, eu não sabia que ele ia demitir-me no dia a seguir. Soube pela televisão. Imagine o meu estado quando descobri o meu despedimento por justa causa, por evitar ceder às pressões", disse.
E acusa Galamba e Medina: "Estes dois ministros, ao despedir-me por justa causa, arruinaram a minha reputação. E eu tenho de limpar a minha honra. E fá-lo-ei."
Questionada pela Iniciativa Liberal, Christine Ourmières-Widener confirma ter tido uma reunião com o PS na véspera da audição na comissão parlamentar na qual participou há dois meses. Esta questão levantou preocupações quanto à "transparência" da audição da CEO da TAP, caso os deputados do PS presentes questionassem a presidente-executiva da TAP.
Mais tarde na audição, a CEO da TAP negou que a reunião tivesse servido para preparar a audição do dia a seguir: "Era mais para eu explicar os factos, não me recordo de nenhuma preparação."
A CEO da TAP afirma que não esteve "envolvida em nenhum processo contratual", tendo "apenas um papel de coordenação e de articulação com o ministério".
"Portanto, não percebo nem sei se o acordo é legal ou não. (...) Não sei como é que pode haver justa causa. Nesta história, sou um 'bode expiatório' de uma batalha política", disse Christine Ourmières-Widener, considerando que o processo é "ilegal" e um "desrespeito".
Christine Ourmières-Widener afirmou que Alexandra Reis "não tinha o perfil adequado" para continuar no Conselho de Administração da companhia aérea.
"Alexandra Reis não estava ajustada com a Comissão Executiva, não é nada pessoal", disse CEO da TAP na comissão de inquérito à gestão da TAP.
Ourmières-Widener diz que o "desalinhamento tinha a ver com a estratégia", por isso "Alexandra Reis não tinha o perfil adequado" para ocupar a posição.
"Pedi logo uma reunião com o Ministério das Infraestruturas, para que estivesse ao corrente da situação", contou a CEO da TAP, afirmando que apresentou a proposta feita pela advogada de ex-administradora da empresa, a qual tinha "uma compensação bastante avultada".
"O secretário de Estado disse-me que ia pedir a confirmação ao ministro e depois recebi uma mensagem a dizer que o ministro aceitava o pagamento da indemnização", disse Christine Ourmières-Widener.
Em resposta à questão do Chega, Christine Ourmières-Widener diz que Alexandra Reis era "uma boa profissional", mas que havia um "desalinhamento" relativamente à aplicação do plano de recuperação da companhia aérea.
A ainda CEO da TAP afirma que tinha "uma boa relação" com Fernando Medina, mas não sabe se ainda a tem, e confirma que nunca falou com o Ministério das Finanças, nem no tempo de João Leão, nem com Medina, sobre a indemnização paga a Alexandra Reis.
Christine Ourmières-Widener diz que havia "muitas pessoas" que estavam a par da indemnização paga a Alexandra Reis, ainda que não confirme se Gonçalo Pires, CFO da empresa, era uma dessas pessoas. Do lado do Governo, confirma que sempre tratou do assunto com o antigo secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Santos Mendes.
O Chega expôs uma alegada incompatibilidade entre uma empresa para a qual o marido de Ourmières-Widener trabalhava que tinha feito uma apresentação. A CEO da TAP negou ter havido qualquer contrato.
"Não há contrato, não há relação contratual, não há valores. Estamos a dar demasiada ênfase a isto", respondeu.
A CEO da TAP confirmou ter recebido um pedido para alterar a data de um voo proveniente de Maputo onde seguia o Presidente da República, mas negou que o voo tivesse sido alterado.
Christine Oumières-Widener explicou que a nova estrutura da TAP foi apresentada ao Governo a 4 de janeiro de 2022, já sem a presença de Alexandra Reis, e que o ministro das Infraestruturas na altura, Pedro Nuno Santos, apoiou.
A presidente da Comissão Executiva da TAP afirma que o despedimento unilateral de Alexandra Reis "foi ponderada", mas nunca foi a ideia inicial. "A ideia era chegar a acordo com Alexandra Reis", garantiu.
Christine Ourmières-Widener garante que não foi previamente informada de que iria ser demitida e apenas soube "durante a conferência de imprensa" de João Galamba e Fernando Medina.
Relativamente ao bónus relativo aos resultados da TAP em 2022, a CEO da TAP considera que "merece recebê-lo" e que no seu contrato, tanto quanto sabe, "não existe qualquer cláusula" que o impeça.
Questionada pela deputada bloquista Mariana Mortágua, sobre a consultoria paga ao antigo CEO da empresa Fernando Pinto (pela qual este recebeu 1,6 milhões de euros), a presidente executiva da TAP remeteu as respostas para a auditoria feita pela EY, que inclui o caso da saída de Fernando Pinto, sobre a qual ainda não tem o relatório final.
"Não encontro nenhuma evidência sobre que tipo de consultoria é que foi prestada por Fernando Pinto nestes dois anos e gostaria de saber se tem alguma evidência destes serviços", questionou a deputada, ou mesmo se "esta suposta consultoria existiu ou se foi uma forma de atribuir um outro pagamento ou indemnização a Fernando Pinto".
"Não tenho evidências num sentido ou no outro. Não tenho essa informação, mas a auditoria vai dar resposta a isso porque uma das questões que perguntamos aos auditores foi para encontrar evidências desses serviços", afirmou a CEO da TAP.
Notícia atualizada às 08h10 de dia 5 de abril