"Comemorar Abril é exercício incompleto." Moedas diz que 25 de novembro ditou "vitória da democracia"
Carlos Moedas sublinha que os acontecimentos do 25 de novembro travaram "nuvens escuras e carregadas" de "escurecer as cores e o brilho de Abril".
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O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, defendeu este sábado que, até agora, celebrar o 25 de Abril foi "um exercício incompleto", estando a faltar uma peça fundamental: a comemoração do 25 de novembro.
"No último 5 de outubro firmei um compromisso: celebrar o 25 de novembro porque todas as datas contam e esta em particular, mais do que nunca, é importante. Quase nos 50 anos do fim da ditadura, comemorar Abril é um exercício incompleto. Faltava-nos o 25 de novembro", aponta Carlos Moedas, num discurso que contou com a presença da procuradora-geral da República, Lucília Gago e do chefe de Estado-Maior da Armada, Gouveia e Melo.
A Câmara de Lisboa abriu as portas do Paços do concelho para assinalar este ano, pela primeira vez, o 25 de novembro, uma data que o edil considera que travou "nuvens escuras e carregadas" de "escurecer as cores e o brilho de Abril".
"Podíamos ter tido mais um inverno, mas tal não aconteceu, porque depois de Abril tivemos novembro", aponta.
Numa altura em que "tudo na nossa memória se parece apagar", Carlos Moedas assegura que não quer "que a memória da democracia" portuguesa seja tratada de forma "negligente".
"Celebramos as datas que nos parecem fundamentais, mas logo depois esquecemos", lamenta, acrescentando que um "país sem memória não tem futuro". Carlos Moedas atira assim que "reavivar a memória é aquilo que qualquer democracia madura deve fazer".
O edil lembra o 25 de novembro como o dia em que se deu a "vitória da democracia sobre o radicalismo", agradecendo aos "vencedores moderados".
"O poder militar pretendia ser o motor do poder político, alguns queriam que a legitimidade revolucionaria substituísse a legitimidade eleitoral", acusa, destacando que nesta altura "havia modelos de totalitarismo para todos os gostos".
"Isto não era apenas uma fantasia de algumas mentes. Correspondeu também, na prática, a um projeto de poder, disse Carlos Moedas, sublinhando que esse "projeto de poder podia ter levado os portugueses por um caminho perigoso de fricção, de conflito e - porventura até - à guerra civil".
Carlos Moedas afirma ainda que este dia serve também para refletir os acontecimentos de 1975 à "luz do dia de hoje", em que existe "um vazio capturado por minorias barulhentas", destacando que a falta de "ativismo moderado" faz com que as pessoas "se agarrem a radicalismos".
"Se hoje temos democracia pluralista, um país europeu, temos de dizer que o devemos a todos os nossos militares, a quem agradecemos muito pouco", considera.
Moedas revela ainda ter "pena que uma parte do PS" da câmara "não tenha seguido o caminho dessa memória" e saúde, particularmente, Carlos Lages por ter marcado presença nesta cerimónia.
O presidente da Câmara de Lisboa termina o seu discurso com uma "pequena história", em que conta que a vontade de celebrar este dia nasceu de um almoço "único", em que Ramalho Eanes destacou que os militares do 25 de novembro nunca tinham sido "honrados".
"Estamos aqui porque queremos corrigir isso e porque é essa a vontade do presidente da câmara, dos lisboetas", garante, reforçando que "a promessa do 25 de Abril, sem o 25 de novembro, nunca se poderia cumprir".
Lembrando o dia em que "a democracia venceu o extremismo", Carlos Moedas apontou os "heróis" dessa data, nomeadamente o general Ramalho Eanes, Jaime Neves, Melo Antunes e todos os militares do grupo dos 9, enaltecendo "os militares moderados que souberam interpretar a vontade do povo português - que sabiam que a legitimidade do voto é a única legitimidade que conta numa democracia".