PS e PCP acusam Moedas de "desvalorização do 25 de Abril" com festejos do 25 de Novembro
Para a vereadora Inês Drummond, o autarca está a "omitir os 48 anos de ditadura" e a procurar uma "nova data fundadora do regime democrático".
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A vereadora socialista na Câmara Municipal de Lisboa, Inês Drummond, acusa o presidente da autarquia, Carlos Moedas, de estar a criar divisões a propósito da comemoração do 25 de Novembro e sublinha que o PS não aceita lições sobre democracia.
"O Partido Socialista é um partido criado há 50 anos no exílio, que combateu a ditadura, lutou pela liberdade e pela democracia e celebra o 25 de Abril com uma revolução democrática e a data da liberdade que pôs fim a 48 anos de ditadura e de privação de direitos. Celebra também o 25 de Novembro como um momento de consolidação da democracia liberal pluripartidária europeia", explicou no Fórum TSF Inês Drummond.
Para a socialista, o que Carlos Moedas está a fazer neste 25 de Novembro é "omitir os 48 anos de ditadura" e procurar uma "nova data fundadora do regime democrático".
"Inclusivamente cria aqui uma nova mitologia que está bem espelhada nesta fotografia que a Câmara Municipal tem por toda a cidade alusiva à exposição e que tem o título: '25 de Novembro: A história que não te contaram'. É uma fotografia que não é do 25 de Novembro, aliás, um dia em que não existiu qualquer aglomerado popular nas ruas, mas sim do dia 19 de julho desse mesmo ano de 1965, num comício de Mário Soares na Fonte Luminosa. Esta falta de rigor histórico demonstra que, de facto, esta história não tem que ser contada porque esta história, conforme a querem colocar, é falsa", afirmou a vereadora do PS na autarquia da capital.
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Na oposição à esquerda na Câmara de Lisboa, a decisão de Carlos Moedas também não agrada.
"Quanto a nós, um ato de desvalorização do 25 de Abril e das comemorações do seu cinquentenário. Levámos então a proposta de que a Câmara se demarcasse, se dissociasse desse anúncio e que considerasse que não deveria haver nenhuma operação do tipo daquela que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa está a levar a cabo para desvalorizar as comemorações oficiais do 25 de Abril. A Câmara tomou uma deliberação na qual foi muito clara no sentido de dizer que não faria sentido concretizar aquilo que o seu presidente tinha anunciado no dia 5 de Outubro. A partir daí, enfim, o que acontece é uma é uma demonstração da falta de respeito democrático que aquele que preside à Câmara Municipal de Lisboa tem pelo órgão a que preside", defende na TSF João Ferreira, vereador do PCP na Câmara de Lisboa.
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O deputado do PCP só vê uma explicação para esta vontade de celebrar agora o 25 de Novembro.
"Em 49 anos, quantas comemorações populares houve do 25 de Novembro? Houve algum tipo de clamor popular a exigir essas comemorações? Não houve em 49 anos, mas uma coisa é certa, nós em 49 anos tivemos todos os anos enormes demonstrações de massas por todo o país de celebração do 25 de Abril, que significa muito mais do que celebrar um dia, significa celebrar todo um acervo de conquistas, de valores, mas também uma dimensão de projetos por concretizar que é muito importante. Ora, há setores da nossa sociedade que nunca se conformaram com isso e, portanto, agarram-se a todo o tipo de manobras. O 25 de Novembro é só mais uma para desvalorizar o 25 de Abril e para atacar esse valiosíssimo acervo de conquistas, de valores e de ideais que são os de Abril", acrescentou o vereador comunista.
Há vários dias que a TSF tenta ouvir o presidente da Câmara de Lisboa sobre estas celebrações do 25 de novembro, mas Carlos Moedas não esteve disponível. A autarquia comemora a data com um conjunto de iniciativas que começam já esta sexta-feira.
A decisão da Câmara de Lisboa surgiu depois de o Parlamento ter afastado, por agora, incluir esta data nas celebrações dos 50 anos de democracia.