Do "jogo político" ao pedido de resignação. Brilhante Dias debaixo de fogo por levantar suspeitas sobre deputados
Os partidos atacaram Eurico Brilhante Dias, por suspeitar da conduta dos deputados da CPI à TAP. O Presidente da Assembleia da República admite que houve ação ilícita, com objetivos políticos, mas ainda avalia a melhor maneira de atuar.
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As palavras do líder parlamentar do PS, que, na última semana, tinha pedido a responsabilização de quem divulgou para o exterior informação classificada ao cuidado da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP, incendiaram o início do debate, esta sexta-feira, na Assembleia da República. PSD e Bloco de Esquerda acusaram Eurico Brilhante Dias de falar sem provas para fazer jogo político, enquanto o Chega pede mesmo que o líder da bancada socialista ponha o lugar à disposição.
O debate em Plenário deveria ter começado, esta manhã, com a discussão de propostas dos partidos para a Habitação, mas o PSD pediu a palavra para trazer outro tema para cima da mesa.
"Eurico Brilhante Dias lançou uma acusação gravíssima sobre os restantes grupos parlamentares e sobre os deputados que estão na comissão parlamentar de inquérito da TAP, que teriam sido, alguns deles - lançando a suspeição sobre todos -, responsáveis por passar informação classificada à imprensa", expôs o líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento.
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"Passado uma semana, parece-nos relativamente claro que a informação que foi passada nesses dias à imprensa não teve origem na CPI, mas, sim, noutras fontes, nomeadamente um ex-assessor do Ministério das Infraestruturas", atirou.
O debate aqueceu com a intervenção de Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, que exigiu a Eurico Brilhante Dias a apresentação de provas das insinuações que fez.
"O que está em causa é um líder parlamentar que não pertence à comissão de inquérito tecer um conjunto de comentários sobre os deputados e as deputadas da comissão de inquérito, ferindo a sua honorabilidade e, neles, ferindo a honorabilidade da Assembleia da República", declarou, dirigindo-se, de seguida, ao próprio líder parlamentar socialista. "Tem alguma prova sobre as afirmações que fez? Ou foi apenas jogo político?", questionou-o.
O Chega juntou-se à discussão, acusando o PS de enlamear o trabalho da comissão de inquérito à TAP, tentando prejudicá-lo.
Para Pedro Pinto, Eurico Brilhante Dias "só tem uma coisa a fazer": "Quando for apurada essa suspeição que levantou, e que não vai dar em nada, o senhor tem de meter o seu lugar [de líder parlamentar do PS] à disposição".
Na resposta, Eurico Brilhante Dias virou a acusação diretamente para o PSD: "Os senhores estão preocupados e o pior, que me parece, sabe o que é? É que enfiou a carapuça até ao pescoço!".
O líder parlamentar socialista defende-se e insiste que houve um crime do qual é preciso tirar consequências. "Tenho a minha liberdade para fazer a minha interpretação", alegou. "Fugas de material classificado pelo Gabinete Nacional de Segurança - isso é um crime!"
A Iniciativa Liberal, pela voz do líder parlamentar Rodrigo Saraiva, falou em "encenações" para esconder "o embaraço do escrutínio parlamentar". Já o PCP, numa intervenção do deputado Bruno Dias, criticou o facto de o mediatismo em torno da comissão parlamentar de inquérito à TAP estar cada vez menos relacionado com os trabalhos nela conduzidos.
Quanto ao presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, foi questionado pelo PSD em relação à investigação a este caso, que lhe foi pedida pela própria comissão de inquérito à TAP.
Augusto Santos Silva admitiu que houve documentos divulgados de forma ilícita, e "seletivamente", com "objetivos políticos". O presidente da Assembleia da República assumiu, no entanto, ainda estar "a estudar" a melhor maneira de poder ajudar a comissão de inquérito, e, simultaneamente, cumprir a lei.