Durão Barroso critica Varoufakis por dar «entrevistas com grande 'glamour'» sem pensar na classe média alemã

Reuters
Em entrevista à TSF, o ex-presidente da Comissão Europeia diz ainda que a Grécia podia ter conseguido renegociar as condições dos empréstimos se não tivesse partido para «insultos» e «pedidos irrealistas». E que a Zona euro corre o risco de mudar de regras apenas «por causa de um governo que chegou com ideias originais».
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«Ao mesmo tempo que o ministro das Finanças está a pedir dinheiro aos outros países, faz entrevistas com grande 'glamour' nas revistas de moda e isto tem um impacto muito negativo. Se pensarmos na Alemanha, o eleitor médio, a pessoa que vive na classe média, com as suas próprias dificuldades, vê um ministro das Finanças nesta circunstância... isto não é muito animador», disse Durão Barroso à TSF.
Em causa está uma polémica sessão fotográfica de Varoufakis à revista Paris Match, há cerca de um mês, que obrigou o próprio ministro das finanças grego a mostrar arrependimento.
No entanto, os erros, para Durão Barroso, não ficam por aqui. O antigo primeiro-ministro acusa o governo de Atenas de ter começado as negociações com os parceiros europeus com «exigências completamente irrealistas», como o perdão de dívida. «Por que razão é que países às vezes mais pobres do que a Grécia, como a Eslováquia ou os países bálticos, hão-de estar a pagar os erros cometidos pela própria Grécia?», questiona.
Durão Barroso entende que os erros foram cometidos «por falta de experiência ou razões ideológicas». Por isso, diz ainda, Atenas desperdiçou uma oportunidade: «O governo podia ter utilizado a legitimidade direta que tinha tido de uma eleição recente para negociar algumas das condições dos empréstimos. Isso sim. E aí havia alguma compreensão. Mas não, começou até por atacar, às vezes até por insultar outros países».
Pelos contactos que tem mantido, Durão Barroso diz que sabe que «as negociações não têm corrido bem». Insiste, por isso, que é preciso mais responsabilidade do governo grego e mais solidariedade dos parceiros europeus. Barroso acredita que se não fosse este problema político, a situação económica neste momento seria melhor na Grécia.
Em relação à eventual saída da Grécia da Zona Euro, o antigo presidente da Comissão Europeia avisa que só demonstraria «um sinal de fraqueza» da UE, porque é «um tabu que se quebra, um precedente que se abre». Barroso alerta ainda para outro risco, de sinal contrário: «O Euro aparecer como mudando as suas regras por causa de um governo que chegou com ideias um pouco originais»
Entrevista à margem de uma conferência em Roma sobre o crescimento económico dos países do Mediterrâneo, organizada pela consultora EY.