E se o aeroporto fosse em Vendas Novas? Entre o "não é bom" e o "que venha amanhã"
É uma das opções mais recentes, mas que estará a ganhar força para a localização do novo aeroporto de Lisboa. Em Vendas Novas, a população divide-se entre os que estão contra e a favor. A autarquia tenta convencer quem contesta a proposta.
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Maria Ernestina Barrelas é a única pessoa à janela, na Estrada da Afeiteira, no concelho de Vendas Novas.
Há mais de 30 anos nesta localidade, Maria Ernestina tem uma loja e um café à beira da estrada. Começou a servir os clientes à janela, com a pandemia da Covid-19, e manteve o hábito, já que os clientes preferem fumar à porta do café.
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A Afeiteira é um dos lados do triângulo onde poderá ficar o novo aeroporto de Lisboa. Os outros dois são as localidades de Piçarras e Landeira, numa proposta que foi apresentada por quatro associações ambientalistas. Elas não defendem que Vendas Novas seja a melhor opção, mas pretendem que a solução seja estudada.
Ao contrário de outras propostas, Vendas Novas não representaria uma ameaça aos corredores usados pelas aves. O aeroporto ficaria próximo da auto-estrada e de uma linha ferroviária que vai ser duplicada em breve. Acácio Pires, da associação ambientalista Zero, explica que o impacto do ruído também seria menor, em comparação com outras alternativas.
São argumentos que Maria Ernestina não conhece, mas sublinha que tudo "depende dos acessos", apontando para a estrada esburacada que atravessa a Afeiteira.
Do outro lado da estrada, no bar do grupo desportivo e recreativo da Afeiteira, António Narciso tem um interesse particular no aeroporto. "Que venha amanhã, porque tenho um terreno para vender", conta com um sorriso rasgado. Pelos cinco mil metros quadrados, está a pedir 80 mil euros, mas se o aeroporto for para Vendas Novas, o preço vai subir.
Na mesa do café, João Vagarinho também está a favor do novo aeroporto, para desenvolver a terra, mas lembra que aos 70 anos, há 50 que ouve falar no aeroporto. "Já não é do nosso tempo", antevê, "acha que vai haver aeroporto antes de 20 anos? Nem pense numa coisa dessas", vaticina.
Contra o aeroporto, está Brígida Perdigão, que receia a "confusão, o aumento do custo de vida, a chegada de pessoas indesejadas. Vai ser pior ainda", afirma a moradora em Vendas Novas. Aos que estão contra, o vice-presidente da câmara, Valentino Salgado Cunha, realça que compreende as preocupações, mas defende que "não podemos ter medo do futuro e do progresso". O autarca admite que a construção do aeroporto poderia levar à demolição de dois montes e ao abate de árvores,
que seria compensado como está previsto na lei.
A cidade, garante Valentino Salgado Cunha, está preparada para um aumento da população dos actuais 12 mil para os 20 mil habitantes. Em breve, vai avançar um plano de urbanização, mas o vice-presidente da câmara de Vendas Novas admite que têm faltado investidores. "Há projectos, há terrenos, viabilidade de construção. Só falta o dinheiro para esses investimentos".
A autora não segue as regras do novo acordo ortográfico