Economista diz que parecer da comissão de ética sobre Centeno "dá uma no cravo e outra na ferradura"
À TSF, Pedro Brinca considera que a comissão de ética não viu irregularidades na conduta do governador do Banco de Portugal, mas deixou críticas.
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O economista Pedro Brinca considera que o parecer da comissão de ética do Banco de Portugal tem duas perspetivas, já que não encontrou irregularidades na conduta de Mário Cento, mas deixa uma crítica.
"Eu acho que a Comissão de Ética dá uma no cravo e outra na ferradura, porque, se, por um lado, diz que Mário Centeno teve uma conduta a que atendeu ao que era exigido na sua função, por outro lado, também diz que todo o cenário político e mediático que foi criado por esta situação pode trazer danos à imagem do Banco de Portugal", considera o professor da Universidade NOVA de Lisboa em declarações à TSF.
Para Pedro Brinca, é óbvio porque é que tem de existir um distanciamento entre o banco central e o poder político: "É essa a ideia dos bancos centrais independentes. E se alguém tem dúvidas do perigo que é este tipo de aproximações, basta lembrar as críticas que foram feitas a Lagarde e lembrar que Mário Centeno tem assento no conselho de governadores em Frankfurt onde são decididas as taxas de juro. A razão pela qual temos bancos centrais independentes é precisamente para não ceder ao poder político naquilo que é o combate à inflação. Essa proximidade não é obviamente desejável. Mas não é desejável só no âmbito do controlo da política monetária. Não é desejável, em geral, em respeito à aproximação do Governo ao regulador."
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Para o economista, "Portugal tem o problema sistemático de alguma dependência das entidades reguladoras relativamente ao Estado", já que "elas são de facto autónomas por lei, mas, na prática, não são, porque os seus membros são nomeados pelo Governo e dependem diretamente do Orçamento do Estado para grande parte da sua atividade".
O professor da Universidade NOVA de Lisboa acredita que Mário Centeno "terá perdido algum capital político", mas que "daqui a um ano já ninguém fala nisso". Quanto à imagem do Banco de Portugal, já teve dias piores.
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"Terá saído danificada no ano passado, quando Mário Centeno durou um mês a sair do Ministério das Finanças para o Banco de Portugal. Em abstrato, sim, em termos concretos, creio que terá um peso muito limitado. Acho que foi uma maneira, mais uma vez, de a Comissão de Ética dizer que aceita, mas não concorda, ou, se quiser, concorda, mas não aceita", diz Pedro Brinca.