"Cervejinha soube muito bem." Marcelo destaca "esplanadas cheias" e "vida normal" em Kiev
O Presidente da República espera ter Volodymyr Zelensky em Portugal "mais rapidamente do que pensava".
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, destaca a forma como a vida em Kiev alterou-se em poucos meses, realçando os "milhares de jovens a fazer uma vida normal".
"Aquilo que não era possível há uns meses, que era andar sem coletes, andam os ucranianos e andamos nós sem coletes, mas respeitando os alarmes", explicou o chefe de Estado português em declarações aos jornalistas numa avenida, onde referiu um jardim próximo repleto de bandeiras, que funciona como um "memorial popular".
Pouco depois, enquanto passeava pelas ruas de Kiev, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que bebeu "uma cervejinha que soube muito bem" e destacou as "esplanadas cheias" e o "à vontade" com as pessoas se movem na capital ucraniana.
Marcelo acrescentou que para se notar a diferença pode comparar-se as visitas oficiais do passado com aquela que decorre neste momento: "Se me perguntar se há uma inversão da situação, basta olhar à volta e comparar com o que se passava com as visitas aqui feitas há cinco meses, quatro meses, oito meses ou nove meses para ver a diferença. É uma sociedade que se sente a respirar normalmente no quadro de uma guerra que sabe que existe."
Sobre uma possível visita do Volodymyr Zelensky a Portugal, o Presidente português levantou ligeiramente o véu.
"Tenho esperança de o ver mais rapidamente do que pensava em Portugal. Falou-se nisso, mas para os termos em que isso ocorrerá esperemos um tempinho", referiu, confirmando que "foi entregue uma condecoração", mas "numa cerimónia não pública".
Marcelo Rebelo de Sousa nega que a posição de Portugal sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia e à NATO não seja clara: "O primeiro-ministro e o presidente da Assembleia da República tinham sido muito claros: sim, a Ucrânia tem direito a integrar-se nessa família política europeia que se chama União Europeia e a querer uma aproximação, primeiro, e depois uma inserção da NATO no quadro de um processo em que as duas partes estão a fazer um trabalho de preparação."
O chefe de Estado português surpreendeu toda a gente esta quarta-feira ao ter discursado em ucraniano e explicou a situação.
"Eu não aprendi a falar ucraniano, eu aprendi a preparar um texto alternativo que não tencionava ler e era para falar em inglês. Só passei a falar ucraniano quando o Presidente da Lituânia, que eu pensei que ia falar em inglês como os demais oradores, mudou para ucraniano. Aí, fiz das tripas coração e falei, não sei se bem ou mal", justificou.
Sobre a guerra propriamente dita, Marcelo Rebelo de Sousa conversou com Zelensky e diz ter ficado com "a sensação de que ele está muito empenhado e esperançado, no sentido em que está a haver avanços, os quais não são percetíveis, que haverá mais avanços durante o outono e na transição para o inverno".
O Presidente português dividiu as declarações aos jornalistas em três partes. "A viagem atingiu todo os objetivos pretendidos. Foi uma viagem que olhava para o passado, viu o presente e estava virada para o futuro", iniciou.
"Primeiro o passado: visitámos a catedral de Santa Sofia, que é um símbolo da identidade e da resistência do povo ucraniano. Num passado mais recente, houve uma reunião da cimeira relacionada com a Crimeia e em que vale a pena recordar que desde 1991 estão fixadas internacionalmente as fronteiras da Ucrânia, reforçadas em 1994, e que Portugal desde 1991 teve a mesma posição. Nunca reconheceu a ocupação da Crimeia e Sebastopol", garantiu o chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa falou ainda "num passado mais próximo" e da "visita a inúmeros lugares que são recordação dos primeiros dias da invasão e da resistência, não só das forças armadas, mas a resistência popular", nomeadamente em Bucha e Irpin.
Quanto ao "presente", o Presidente da República destacou o facto de a delegação portuguesa ficar dois dias em Kiev: "Não é vulgar. A maior parte dos chefes de Estado ou de governo que vieram à cimeira ficaram um dia ou noutro, mas não ficou. Foi intencional por parte da delegação portuguesa ficar para compreender o pulsar e a normalização da vida."
E o futuro? "É a celebração do dia da independência, já virado para a construção. No dia de hoje, as várias reuniões que tivemos com Zelensky, com o primeiro-ministro e com as delegações governamentais correspondentes em que se falou já de cooperação económica virada para o futuro, cooperação entre estados, cooperação envolvendo sociedade civil portuguesa e até um fórum empresarial a realizar este outono. Cooperação política, diplomática e militar, tudo isso já com clima de esperança no futuro", esclarece Marcelo Rebelo de Sousa.