Estudo indica que organização das cidades influencia aparecimento de doenças como diabetes e obesidade
Apenas um em cada cinco locais de compra de comida na freguesia da Ajuda vende produtos frescos e a localização destes espaços dificulta o acesso a uma alimentação saudável.
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Existe uma relação direta entre a organização das cidades e o eventual aparecimento de doenças como a diabetes, alerta o coordenador do Cities Changing Diabetes, programa que monitorizou durante um ano o impacto do ambiente urbano na saúde pública em Lisboa.
Na primeira zona alvo deste estudo, a freguesia da Ajuda, conclui-se que as escolhas alimentares dos residentes não são apenas influenciados pelo preço dos alimentos, revela Gonçalo Folgado em declarações à TSF.
"Cerca de 55% das pessoas com quem falámos mencionaram o preço como sendo uma condicionante, mas igualmente a questão do espaço público e das acessibilidades. Porque imagine o que é que é subir uma encosta com o peso das compras."
Foram ainda analisados cerca de 47 espaços com venda de comida - restaurantes, cantinas, mercearias, supermercados - e verificou-se que, em média apenas um em cada cinco tem uma oferta de alimentação saudável, incluindo verduras frescas, carne, peixe. "É algo preocupante", alerta o coordenador do estudo. "Se calhar estamos aqui, de facto, inseridos num deserto alimentar."
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Para Gonçalo Folgado, também presidente da associação Locals Approch, que coordena este estudo, conclui que "o ambiente urbano é potenciador e dissuasor do aparecimento de doenças".
"Se viver num ambiente urbano em que não tem oferta de alimentação saudável, em que o espaço público não está devidamente acondicionado para as suas viagens, em que o tempo de espera por um autocarro e o tempo de viagem é superior ao tempo das suas compras, naturalmente que ficará em desvantagem a relativamente a territórios em que todas essas condições são cumpridas. Há claramente aqui uma influência gigantesca do ambiente construído naquilo que são os hábitos e rotinas alimentares e até na definição do perfil de consumo dos moradores."
A partir deste projeto-piloto no âmbito do Programa de Prevenção da Diabetes e Obesidade na cidade de Lisboa, foi criada a ferramenta "Foodscape Toolkit", disponível a partir desta segunda-feira, dia Mundial da Diabetes.
"Tem como objetivo mapear e identificar aquilo que são as rotinas alimentares e os perfis de consumo e, sobretudo, como é que as condicionantes socioespaciais podem ou não promover uma alimentação mais saudável, combatendo a montante a obesidade e, naturalmente, a diabetes tipo 2."
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A "Foodscape Toolkit" funciona como "um retrato robot, um diagnóstico bastante aprofundado daquilo que é a relação do sistema alimentar do território com os perfis e com as cortinas alimentares das comunidades", que pode ser aplicado em qualquer cidade.
"Todas as cidades efetivamente necessitam de ter uma radiografia daquilo que é a sua performance de saúde", defende Gonçalo Folgado.
Desde 2019 que a cidade de Lisboa faz parte do Cities Changing Diabetes, um programa que inclui mais de 40 cidades e 150 organizações.