"Faixa enorme de vinha vai ser destruída" com passagem da linha de alta velocidade pela Bairrada
Autarcas falam em impactos ambientais, sociais e económicos associados à construção da via de alta velocidade e querem ouvir as populações.
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A linha de alta velocidade que ligará o Porto a Lisboa vai atravessar a região vitivinícola da Bairrada e os possíveis danos estão a gerar movimentos junto da população.
Está a decorrer neste momento o período de consulta pública do Estudo de Impacto Ambiental do troço Soure - Aveiro da Linha Ferroviária de Alta Velocidade.
Anadia faz esta quinta-feira, ao final da tarde, uma sessão de esclarecimento com a população e Oliveira do Bairro marcou o mesmo para a próxima semana.
A autarca de Anadia, Teresa Cardoso, não quis prestar declarações antes de falar com a população, mas a TSF sabe que vai ser apresentada nesta primeira sessão de esclarecimento uma petição contra a linha de alta velocidade.
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Na Mealhada, dos cinco traçados possíveis, já foi escolhida a opção que menos prejudica o concelho, que implica afetar uma mancha de vinha.
"Tendo que existir a linha de alta velocidade, é difícil não passar aqui por esta região", assume António Franco, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, em declarações à TSF. "Nós passamos no eixo Lisboa - Porto, portanto já temos a estrada Nacional número 1, temos a autoestrada, temos a linha do Norte, e obrigatoriamente terá que passar aqui a linha de alta velocidade, havendo essa aposta do país seremos sempre afetados."
A solução encontrada não é ideal, mas será aquela que menos afeta o concelho como um todo, explica António Franco.
"Isto é um grande impacto a nível da vitivinícola, porque um há uma faixa enorme de vinha que vai ser destruída. É difícil tomar opções: ou destruímos a vinha ou destruímos casas" de primeira habitação.
Em Anadia, os traçados propostos implicam a expropriação de terrenos, demolição de habitações, perturbações das linhas de água, destruição de vinhas e excesso de ruídos e vibrações. Situação idêntica à de Oliveira do Bairro, sublinha o autarca Duarte Novo.
"Estão em causa habitações, naturalmente, e aí é a questão é o valor sentimental e patrimonial para as pessoas que temos que ter sempre em atenção", mas a construção da linha também pode implicar a passagem junto a um equipamento desportivo, zonas ribeirinhas, complexos industriais e uma ponte.
Para Duarte Novo, era mais importante para o concelho de Oliveira do Bairro desbloquear a construção de nó de acesso direto da A1 ao concelho do que a construção da linha de alta velocidade que, na prática, não serve diretamente os munícipes e as empresas locais.
"Se não tivesse de passar aqui seria ideal para todos", lamenta autarca. "O que estamos a fazer neste momento (...), é tentar reduzir o máximo de impacto possível na nossa população."
Na linha de alta velocidade entre Soure e Aveiro estão em causa três traçados com cinco alternativas, todas elas atravessam a região da Bairrada.
As autarquias locais consideram que os traçados propostos acarretam um conjunto de impactos negativos para a população e para o território.
Até ao dia 28 de julho de 2023, qualquer pessoa, empresa, associação e entidade pode apresentar opiniões, sugestões e/ou reclamações, através do portal www.participa.pt. É também neste portal que se encontram informações detalhadas sobre a linha de alta velocidade, que "não é imprescindível para Portugal e que é prejudicial para o concelho de Anadia", lê-se no site do município de Anadia.
Esta quinta-feira à noite, no Cineteatro Anadia, haverá uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Anadia, que será inteiramente dedicada à apreciação e discussão do Estudo de Impacte Ambiental do troço Soure/Aveiro (Oiã) da linha de alta velocidade que ligará o Porto a Lisboa.
No dia 12 de julho, será a vez de Oliveira do Bairro ouvir a população, às 18h30, no auditório do Espaço Inovação, na Zona Industrial de Vila Verde. O objetivo do encontro é o de "esclarecer a população sobre os efeitos e condicionalismos provocados, bem como ouvir os munícipes e esclarecer algumas dúvidas que possam surgir".
O período de consulta pública do projeto "Alta Velocidade - Lote B - Troço Soure / Aveiro (Oiã)" decorre até 28 de julho.