"Gesto corajoso e lúcido." Catarina Martins "sai porque quer" e por achar "que é o melhor" para o BE

Catarina Martins
Rodrigo Antunes/Lusa (arquivo)
Em declarações à TSF, José Manuel Pureza considerou que a decisão de Catarina Martins "abre espaço para uma solução política forte". Nas redes sociais, Joana Mortágua agradeceu a Catarina Martins e a eurodeputada Marisa Matias elogiou o reforço do partido.
O antigo deputado do Bloco de Esquerda José Manuel Pureza elogiou, esta terça-feira, a atitude de Catarina Martins em anunciar que vai abandonar a liderança do Bloco de Esquerda.
"Um gesto corajoso, lúcido, de alguém que ao longo destes 10/12 anos teve responsabilidades de coordenação do Bloco e que prolonga o seu espírito de serviço ao Bloco, nesta fase, abandonando as funções de coordenação, por entender que é necessário que o Bloco prepare uma resposta política forte e constitua uma equipa. Creio que as palavras da Catarina devem ser entendidas como um serviço que presta ao Bloco, abrindo espaço para uma solução política forte que venha em continuidade da linha política que o Bloco tem seguido", afirmou à TSF José Manuel Pureza.
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Questionado sobre a possibilidade de Mariana Mortágua suceder a Catarina Martins, José Manuel Pureza defendeu que não faltam nomes fortes.
"Felizmente, no Bloco de Esquerda não escasseiam quadros políticos que vêm do mundo do ativismo, do trabalho, da cultura, das lutas várias, e nomes que tenham determinação política e espírito de grande lucidez. Uma tarefa muito difícil, muito exigente, sobretudo agora que temos uma maioria absoluta num processo de desgaste muito acentuado", acrescentou.
Oposição interna do BE vai avançar com uma lista de candidatos
Carlos Matias, que faz parte do Movimento Convergência, anunciou, em declarações à TSF, que a oposição no Bloco de Esquerda não está de braços cruzados e irá avançar com uma lista de candidatos.
"Na altura oportuna emergirá uma lista de candidatos à direção nacional, com um primeiro candidato, e essa é uma decisão para o seu tempo, que não ainda o de agora", afirmou.
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Questionado sobre quem poderá ser o rosto da candidatura da oposição, Carlos Matias não adiantou um nome, mas rejeitou a hipótese de Mariana Mortágua suceder a Catarina Martins.
"Não gostaria de falar de nomes nenhuns, o que me parece é que tem de ser nome comprometido com uma linha política diferente e não estou a ver como é que a Mariana Mortágua irá comprometer-se com uma linha política contrária àquela que tem permanentemente defendido", considerou.
A mudança no Bloco de Esquerda tem de passar por uma nova relação com o PS, diz Carlos Matias.
"Uma certa subordinação e um certo apagamento das propostas autónomas do Bloco de Esquerda em relação ao PS não dão bom resultado, pelo contrário, enfraquecem a esquerda e enfraqueceram eleitoralmente o Bloco de Esquerda", sublinhou.
Catarina Martins sai do BE "porque quer"
A deputada bloquista Joana Mortágua agradeceu esta terça-feira a Catarina Martins pela década à frente do partido, considerando que "sai porque quer" por achar ser "o melhor para o Bloco", enquanto a eurodeputada Marisa Matias elogiou o reforço do partido.
Catarina Martins anunciou esta terça-feira em conferência de imprensa que vai deixar a liderança do BE na Convenção Nacional de maio, escusando-se a apontar nomes para a sua sucessão, mas deixado claro que tomou esta decisão tranquila por saber que há pessoas no partido preparadas para o fazer.
"A Catarina chega ao fim de uma década à frente do Bloco mantendo o apoio de um partido unido. Sai porque quer, porque acha que é o melhor para o Bloco. Temos tanto a agradecer-lhe que a única certeza boa é que continuaremos a contar com ela. Obrigada", disse, numa publicação na rede social Twitter a deputada Joana Mortágua.
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Também através do Twitter, a antiga candidata presencial e eurodeputada do BE Marisa Matias aproveitou para agradecer o trabalho da coordenadora bloquista, que considerou ser "uma líder forte, carismática, corajosa e generosa, além de uma querida amiga".
"Ajudou-nos a fazer caminhos difíceis e a reforçar o partido. Continuaremos a fazer todos os caminhos que houver por fazer com quem vier e se queira juntar. Obrigada, Catarina", afirmou Marisa Matias.
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De Bruxelas vieram também as palavras de José Gusmão, o outro eurodeputado do BE, que afirmou que Catarina Martins "assumiu a liderança do BE num dos momentos mais difíceis".
"Em 2015 lançou o desafio a Costa que permitiu tirar a direita do poder e recuperar direitos que agora a maioria absoluta destrói. Não há despedidas. Sabemos que a Catarina continua connosco e com as pessoas", enfatizou.
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Na conferência de imprensa desta manhã, Catarina Martins afirmou que a década durante a qual esteve à frente dos destinos do BE foi de "vitórias e derrotas", explicando que "o que mudou agora" foi "a instabilidade da maioria absoluta", afirmando que a crise "multiplicada dentro do Governo e em choque com a luta popular é o sinal do fim de um ciclo político".
"No Bloco não há períodos muito longos de funções como a coordenação. O que me fez decidir neste momento foi pensar que é agora que o Bloco deve começar a preparação da mudança política que já aí está", afirmou.
Catarina Martins está à frente dos destinos do partido desde novembro de 2012, na altura em parceria com João Semedo, quando foram eleitos coordenadores do Bloco de Esquerda, então numa inédita liderança "bicéfala", modelo abandonado dois anos depois, na Convenção Nacional seguinte, em 2014.
Nesse ano, o partido passou a ser dirigido por seis coordenadores: Pedro Soares, Pedro Filipe Soares, Joana Mortágua, Adelino Fortunato, Nuno Moniz e Catarina Martins, que então era porta-voz do BE.
Na reunião magna do partido em 2016 deixou de existir o cargo de porta-voz e retomou-se a figura de coordenador/a nacional, lugar ocupado por Catarina Martins.
Já na XI Convenção Nacional, em novembro de 2018, a lista de continuidade e sem grandes alterações de Catarina Martins, Pedro Filipe Soares e Marisa Matias foi eleita confortavelmente e conseguiu 70 dos 80 lugares na Mesa Nacional.
Na última reunião magna do partido, em maio de 2021, a lista da atual direção conseguiu 54 dos 80 lugares da Mesa Nacional do BE, que ficou mais dividida, uma perda de 16 mandatos em relação a 2018.
Notícia atualizada às 14h40