O Governo reconhece que há casos de abandono dos estudos superiores por razões económicas mas, sem apresentar números, desmente os valores apresentados pelo PCP.
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O secretário de Estado do Ensino Superior afirmou, hoje no Parlamento, que os números apresentados pelos comunistas são «fantasiosos», mas ficou sem resposta o repetido desafio da oposição para que o Governo avançasse com dados oficiais sobre o abandono das universidades.
Ainda assim, João Filipe Queiró reconheceu que haverá casos em que as dificuldades financeiras pesem na decisão de sair da universidade.
«Há estudantes seguramente que não prosseguem os seus estudos por motivos económicos. E uma situação muito preocupante», afirmou o secretário de Estado.
João Filipe Queiró citou apenas informações das universidades para dizer que não aumentou o número de matriculas anuladas, nem houve até agora qualquer pedido por parte das instituições para reforço dos auxílios de emergência.
«As instituições de ensino superior não confirmam, pelo contrário, um aumento do número de matriculas anuladas relativamente ao ano passado. Eu sei que este indicador não é exatamente o mesmo indicador que o do abandono, mas é o único fiável de que nós dispomos», referiu.
«Há informações do terreno que indiciam casos de abandono por motivos económicos, não estou a referir-me aos números por vezes fantasiosos que são atirados para o ar, e eu atribuiu especial credibilidade à carta que recebemos da pastoral do Ensino Superior», sublinhou João Filipe Queiró.
A carta da pastoral do Ensino Superior apelando ao Governo para que travasse o abandono escolar por razões económicas, tinha sido invocada pela deputada Rita Rato, do PCP, que acusou o Governo de violar a Constituição ao impedir o acesso ao ensino superior de famílias com menos recursos.
«O senhor secretário de Estado sabe que há estudantes que comem um pão ao almoço, que percorrem a pé vários quilómetros porque não têm dinheiro para comprar o passe, e o que o senhor aqui nos diz é que são números fantasiosos. Mas em que mundo é que o senhor secretário vive? É que o mundo real é dos estudantes que nos dizem que já nem sequer se candidatam ao ensino superior porque os seus pais estão desempregados e não têm dinheiro para pagar propinas. Mas que atraso de país é este?», criticou Rita Rato.
A deputada comunista diz que por dia cem anos são atirados para fora do ensino superior. O Governo inste que o número de bolsas deste ano se aproxima dos números do ano passado e que já ronda os 53 mil bolseiros.
O secretário de Estado reafirmou que não há cortes no valor das bolsas mas frisou também que não existe qualquer folga orçamental.