"Não há nenhuma situação que tenha colocado em risco a vida de ninguém", diz bastonária
A bastonária Ana Rita Cavaco afirma que a greve nos blocos operatórios "não coloca em risco a vida de ninguém", apesar da paralisação já ter provocado o adiamento de mais de cinco mil cirurgias.
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A Ordem dos Enfermeiros garantiu esta terça-feira que não houve nenhuma situação durante a greve em blocos operatórios que tenha posto em risco a vida de doentes.
"Não há nenhuma situação que tenha colocado em risco a vida de ninguém", afirmou esta terça-feira a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, aos jornalistas no final de uma reunião que teve em Lisboa com os sindicatos que convocaram a greve e com os enfermeiros diretores dos cinco hospitais onde decorre a "greve cirúrgica".
A bastonária explicou que esta reunião serviu essencialmente para perceber como está a situação nos hospitais e para esclarecer como estão a decorrer os serviços mínimos.
Segundo a Ordem, os enfermeiros estão a trabalhar além dos serviços mínimos que o tribunal arbitral decretou para esta greve.
"Espero que não haja outra classe profissional a tentar amedrontar as pessoas e a tentar cavalgar uma greve que não é deles, é dos enfermeiros", afirmou Ana Rita Cavaco.
Embora a bastonária não se tenha referido diretamente aos médicos quando falou de outra classe profissional, a Ordem dos Médicos disse já na semana passada que havia doentes graves e prioritários que estavam a ser prejudicados pela greve dos enfermeiros.
Esta segunda-feira, Ana Rita Cavaco admitiu que a greve dos enfermeiros nos blocos operatórios "pode potenciar mais mortes".
"Pessoas a morrer no SNS por falta de enfermeiros infelizmente já acontece há muito tempo e estamos a falar mortes evitáveis. É evidente que a greve nos blocos operatórios, que já adiou mais de 5000 cirurgias, pode potenciar essa situação", avisara esta segunda-feira a bastonária em declarações à TSF.
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Já esta terça-feira, durante o debate quinzenal, o primeiro-ministro considerou ser inaceitável a greve dos enfermeiros às cirurgias programas. António Costa garantiu ainda que as mais de 5000 cirurgias adiadas pela paralisação dos enfermeiros serão reprogramadas e executadas durante o primeiro trimestre do ano.
A "greve cirúrgica" dos enfermeiros, que se iniciou a 22 de novembro e termina a 31 de dezembro, está a decorrer nos blocos operatórios do Centro Hospitalar Universitário de S. João (Porto), no Centro Hospitalar Universitário do Porto, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e no Centro Hospitalar de Setúbal.
Os enfermeiros têm apresentado queixas constantes sobre a falta de valorização da sua profissão e sobre as dificuldades das condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde, pretendendo uma carreira, progressões que não têm há 13 anos, bem como a consagração da categoria de enfermeiro especialista.
A paralisação foi convocada pela Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros (ASPE) e pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), embora inicialmente o protesto tenha partido de um movimento de enfermeiros que lançou um fundo aberto ao público que recolheu mais de 360 mil euros para compensar os colegas que aderissem à paralisação.
A ministra da Saúde, Marta Temido, disse que as cirurgias adiadas devido à greve dos enfermeiros, que calculou em 4.000, vão ser reagendadas a partir de 01 de janeiro de 2019, tendo hoje admitido recorrer aos hospitais privados caso o Serviço Nacional de Saúde não consiga responder a todas as situações.
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