Infarmed alerta para falta de fármacos para hiperatividade e défice de atenção
A pedopsiquiatra Ana Vasconcelos afirma, à TSF, que a dificuldade para encontrar este tipo de medicamentos é sentida há meses, mas reforça, por outro lado, que "não são essenciais à vida".
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O Infarmed alertou esta terça-feira para constrangimentos no abastecimento de medicamentos para o tratamento da perturbação de hiperatividade e défice de atenção, apelando aos profissionais de saúde e distribuidores para fazerem "uma gestão criteriosa" dos stocks disponíveis.
"Alguns medicamentos destinados ao tratamento da perturbação de hiperatividade e défice de atenção (metilfenidato, atomoxetina, dimesilato de lisdexanfetamina) apresentam constrangimentos no seu abastecimento devido ao aumento da procura", refere a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infamed) numa circular informativa publicada no site.
Para garantir a disponibilidade destes medicamentos, o Infarmed diz ser "fundamental que os médicos, farmacêuticos e distribuidores façam uma gestão criteriosa dos stocks disponíveis".
Apela ainda aos doentes que apenas adquiram os medicamentos quando necessário, para que as pequenas quantidades existentes possam ser distribuídas por todos os que delas necessitam.
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A pedopsiquiatra Ana Vasconcelos alerta contudo que as dificuldades para encontrar nas farmácias alguns medicamentos para o tratamento da perturbação de hiperatividade e défice de atenção são sentidas há já alguns meses.
"Antes das férias do verão já havia pais a queixarem-se que era muito difícil e, desde que começou setembro, têm-se queixado com imensa frequência, quase diariamente", sublinha, acrescentado que apesar disso "estes medicamentos não são essenciais à vida".
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"[Estes medicamentos] não são indispensáveis para um bom funcionamento da saúde física. São, sim, da saúde mental, mas também são medicamentos que, se a criança não os tomar, apenas pode ficar mais desatenta. Por exemplo, não são como os medicamentos que se dá em pessoas que têm delírios ou crises de ansiedade muito grandes, ou outro tipo de sintomatologia", afirma.
Ana Vasconcelos explica, ainda, que a lista do Infarmed de medicamentos disponíveis nas farmácias, nem sempre integra todas as versões dos fármacos, por isso, os médicos continuam a prescrevê-los.
"Quando está na lista do Infarmed, nós passamos e depois as pessoas vão às farmácias e os farmacêuticos não os têm disponíveis ou tentam arranjar e demoram alguns dias", esclarece.
Sobre a recomendação do Infarmed, para que sejam consideradas alternativas para os tratamentos em curso, Ana Vasconcelos considera que a informação prestada não é muito clara.
"Eu não sei quais são as alternativas que o Infarmed está a falar. Há é muitos metilfenidatos com muitas doses diferentes, e, quando não se encontra uma dose, pode-se dar uma outra desde que não seja mais alta. Agora desconheço o que é que o Infarmed estará a apontar como alternativas que não seja os metilfenidatos ou outros que estão na mesma categoria de medicamentos para o défice de atenção e a agitação psicomotora", aponta.
O Infarmed adianta que tem vindo a monitorizar o abastecimento do mercado junto dos titulares de autorização de introdução no mercado e confirma "a existência de ruturas de abastecimento de alguns medicamentos, nomeadamente em algumas dosagens de medicamentos", em particular nos medicamentos com a substância ativa Atomoxetina, nas cápsulas 40 miligramas e 60 miligramas, e com a Metilfenidato, nomeadamente no comprimido 10 mg e nos comprimidos de libertação prolongada.
No documento, o Infarmed alerta os prescritores que, para os novos tratamentos, devem ser considerados, sempre que possível, os medicamentos disponíveis.
Para os tratamentos em curso, deverão ser consideradas as alternativas que se encontram disponíveis.
"Os medicamentos com constrangimentos no abastecimento deverão ser reservados para aqueles doentes em que seja difícil a sua substituição", salienta o Infarmed.