"Lisboa vai ficar a arder." Indignados, médicos dizem que "quem está a falhar é o Governo"
Os sindicatos dos médicos acusam Manuel Pizarro de ser intransigente. A FNAM responsabiliza o Governo de "falta de ética", já o SIM demonstra total disponibilidade para alcançar um acordo na sexta-feira.
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Os médicos estão indignados e dizem que quem está a falhar é o Governo. A presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) acusa o ministro da Saúde de ser intransigente e, na resposta a Fernando Araújo, que pediu que os médicos protestem de forma "eticamente irrepreensível", Joana Bordalo e Sá responsabiliza o Governo de falta de ética.
"Onde há uma falta de ética é no facto de os médicos em Portugal não só estarem exaustos, mas também terem um dos salários mais baixos da Europa. Esta questão de estarem a colocar as escusas para não fazerem mais do que as 150 horas extraordinárias por ano, que é o seu limite legal, tem impacto nos serviços de urgência, que têm encerrado", defende, sublinhando que "qualquer morte que aconteça será da inteira responsabilidade da equipa ministerial liderada pelo doutor Manuel Pizarro".
"A Federação Nacional dos Médicos tem muitas propostas em cima da mesa, esperemos que o Governo nos ouça de uma vez por todas, porque, tal como na dança do tango são precisas duas partes, também têm que estar sincronizados na música", refere.
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Também o movimento Médicos em Luta aponta o dedo ao Governo. Uma das porta-vozes do movimento Helena Terleira lembra que os médicos já tinham avisado que o mês de novembro seria dramático.
"De facto, o mês de novembro vai ser dramático se não houver acordo, mas isto está previsto desde o início de setembro, quando apresentámos a nossa carta. Agora que se aproxima o momento em que as minutas dos hospitais de Lisboa vão entrar em vigor e que Lisboa vai ficar a arder é que está tudo muito preocupado", atira.
Para Helena Terleira, "não há boa-fé da parte da tutela". "Quem está a falhar é o senhor ministro, não são os médicos, nem os sindicatos. Nós, médicos, estamos a cumprir o nosso horário de trabalho e dizemos "não fazemos mais do que aquilo que a lei nos obriga até os senhores sentarem, conversarem e chegarem a acordo"", sublinha.
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Por parte do Sindicato Independente dos Médicos, o secretário-geral, Jorge Roque da Cunha, salienta que o SIM está totalmente disponível para alcançar um acordo na sexta-feira.
"Da nossa parte, tudo temos feito para chegar a um acordo que seja aceitável por parte dos médicos. Iremos até sexta-feira continuar o nosso trabalho em conjunto com os nossos colegas da FNAM para chegarmos a esse acordo. Da nossa parte, há total disponibilidade de vontade para que isso possa acontecer, tendo a consciência que este final de ano vai ser um ano ainda mais difícil do que o anterior. Portanto, somos totalmente sensíveis a este apelo, assim o Governo esteja em relação àquilo que o doutor Fernando Araújo disse", afirma.
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Caso não haja um acordo entre os médicos e o Governo, o mês de novembro vai ser o pior de sempre do Serviço Nacional de Saúde. O alerta é do diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Em entrevista ao jornal Público, Fernando Araújo avisa que pode estar em causa a vida das pessoas, por isso, deixa um forte apelo aos profissionais de saúde.
"É importante mostrar o desagrado, é importante ter capacidade de negociar com o Ministério da Saúde, é importante melhorar as condições salariais e de trabalho, mas há limites quando isso impacta na vida das pessoas", disse.