Bastonário dos médicos acusa diretor do SNS de "criar ruído completamente desnecessário"
Carlos Cortes desafia a direção executiva do SNS e o Governo a seguirem valores éticos, tal como estipula código deontológico dos médicos.
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O bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, acusou esta terça-feira, no Fórum TSF, o diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) de "criar um ruído completamente desnecessário" nas negociações com o Ministério da Saúde. Em causa está a entrevista de Fernando Araújo ao jornal Público.
"É desnecessário nesta época do ano, aludindo aqui ao encerramento de várias urgências no país. Mas também colocou outra questão, sobre a qual eu tenho de confessar o meu ceticismo... tomando como exemplo o Reino Unido que vai duplicar, penso que até 2030, o número de médicos. Isto revela um profundo desconhecimento daquilo que tem acontecido em Portugal", afirma Carlos Cortes.
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O diretor-executivo do SNS alertou, na entrevista publicada esta terça-feira, que caso não haja um acordo entre os médicos e o Governo, o mês de novembro será o pior de sempre do SNS e avançou que o acesso às urgências pode sofrer alterações, passando a estar abertas apenas a doentes referenciados.
Em resposta, o bastonário da Ordem dos Médicos desafia o Governo e o diretor-executivo do SNS a seguirem valores éticos, tal como estipula código deontológico dos médicos.
"Também faz parte do código deontológico a necessidade de alertar superiormente para as dificuldades que existem nos cuidados de saúde em Portugal. Isso tem sido feito e gostaria muito que tanto a direção executiva como o Ministério da Saúde tivessem essa obrigação ética de investirem no SNS", confessa.
"E quando falo de investimento não me refiro só ao financeiro (...), refiro-me também investimento em termos de recursos humanos", esclarece Carlos Cortes.
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Também o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares reforçou, no Fórum TSF, Xavier Barreto reforçou que o próximo mês "pode mesmo ser dramático" e afirma que "esta opinião baseia-se em factos."
"Os serviços de urgência já estão encerrados agora um pouco por todo o país. Nós continuamos a ter encerramentos de várias especialidades em vários hospitais do país. (...) Não há nenhum standby nesta situação", afirma.
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Xavier Barreto lembra que vários pedidos de recusa dos médicos só terão efeito em novembro: "É provável que tudo se agrave." Para que a situação seja revertida e os médicos regressem à realização de horas extraordinárias, o responsável apela ao entendimento entre os sindicatos e o Governo.
"Eu digo isto com muita pena, porque obviamente ninguém pode defender que os serviços de urgência sejam garantidos com recurso a horas que vão para além das 150 horas", sublinhou, acrescentando que é também necessário "salvaguardar a saúde mental dos trabalhadores".
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Sobre o acesso às urgências, o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares afirma que não podem ser tomadas medidas sem pensar "numa alternativa para os doentes" e pede que sejam analisados projeto-piloto como o de Vila do Conde, "onde existe uma grande cobertura na família", refere.
"Uma coisa é certa: não podemos implementar soluções, nomeadamente estas de referenciação obrigatória, se não tivermos uma alternativa para os doentes. Os doentes vão ao serviço de urgência hospitalar porque não têm uma alternativa", conclui.