Livre pede aos partidos que "não substituam" comissão de ética do BdP quanto a Centeno
Rui Tavares desafia os partidos a reagir "ao que efetivamente acontece e não ao escândalo que procuram ouvir".
Corpo do artigo
O deputado único do Livre, Rui Tavares, avisou esta segunda-feira que os partidos políticos portugueses não devem tentar substituir-se à comissão de ética do Banco de Portugal, a quem compete avaliar se Mário Centeno cometeu uma falha grave ao "refletir sobre se deve ou não" liderar o Governo português.
O nome do governador do Banco de Portugal foi indicado ao Presidente da República pelo primeiro-ministro para assumir a liderança do executivo na sequência do pedido de demissão de António Costa, o que levou a partidos como o PSD e a IL a pedir a demissão de Centeno.
Esta segunda-feira, a partir do Parlamento, Rui Tavares apontou que a demissão de Mário Centeno poderia ocorrer "em caso de falhas graves na sua conduta", mas pediu também que se pondere se o líder do Banco de Portugal "refletir sobre se deve ou não" chefiar o executivo "é uma falha grave e, se o é, se devemos acrescentar à crise política que já temos" uma outra crise financeira.
Tavares desafiou também a uma reflexão sobre se os portugueses "já não sofrem suficientemente a ver os juros a subir" e se partidos como PSD e IL "querem mesmo mexer com os ratings, rankings e spreads" ao deixar vacante a liderança do Banco de Portugal.
17329091
"Temos Portugal nas páginas dos jornais internacionais com o que aqui dentro chamamos crise política, mas lá fora é retratado como um grande escândalo de corrupção, não acho que tenhamos grande apetência para ter agora Portugal, como em 2011 e 2012, também nas primeiras páginas, mas dos jornais e suplementos financeiros internacionais", avisou.
Por isto, o deputado pede que os partidos "não deixem que a campanha eleitoral lhes suba à cabeça", e que reajam "ao que efetivamente acontece e não ao escândalo que procuram ouvir".
"Quem deve" avaliar as condições de Mário Centeno para continuar à frente do Banco de Portugal "é a comissão de ética, não devem ser partidos que, tentando passar uma imagem de responsáveis, estão a ser completamente incendiários".
Em declarações ao jornal Financial Times, no domingo, o governador do Banco de Portugal afirmou que teve "um convite do Presidente e do primeiro-ministro para refletir e considerar a possibilidade de liderar o Governo" e que estava "muito longe de tomar uma decisão".
Pouco depois, numa nota publicada na madrugada desta segunda-feira no sítio oficial da Presidência da República na Internet, o Presidente da República negou que tenha convidado quem quer que seja para chefiar o Governo, incluindo o governador do Banco de Portugal Mário Centeno, ou autorizado qualquer contacto para este efeito.
Já hoje de manhã, Mário Centeno esclareceu, em comunicado, que não foi convidado por Marcelo Rebelo de Sousa para chefiar o Governo.
"É inequívoco que o senhor Presidente da República não me convidou para chefiar o Governo", já que optou por dissolver a Assembleia da República, afirmou o governador.
No comunicado divulgado hoje no site do regulador bancário, o governador esclareceu que, na sequência dos eventos desencadeados com a demissão do primeiro-ministro, António Costa, "este" convidou-o "a refletir sobre as condições que poderiam permitir que assumisse o cargo de primeiro-ministro".
"O convite para essa reflexão resultou das conversas que o senhor primeiro-ministro teve com o senhor Presidente da República", referiu, indicando que "nunca houve uma aceitação do cargo, mas apenas uma concordância em continuar a reflexão e finalizá-la em função da decisão que o senhor Presidente da República tomaria".
Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março de 2024, marcadas pelo Presidente da República, na sequência da demissão do primeiro-ministro, na terça-feira.