Mais de 7700 pessoas subscrevem petição para alterar nome da ponte pedonal do Parque Tejo
"Recordando" as mais de 4800 vítimas de abusos sexuais pela Igreja Católica, o objetivo dos autores da petição era chegar às 7500 assinaturas para que a alteração do nome da Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente seja discutida na Assembleia da República.
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Mais de 7700 pessoas subscreveram uma petição para exigir que a ponte pedonal do Parque Tejo não tenha o nome de Manuel Clemente. O movimento foi lançado este sábado à tarde e, em perto de 24 horas, reuniu mais de 7700 subscritores. Um dos autores do texto, Tiago Rolino, admite em declarações à TSF que já esperava uma adesão elevada ao abaixo-assinado.
"Este é um tema que é muito sensível para as pessoas, porque, segundo o relatório da Comissão Independente, são mais de 4800 vítimas [de abusos sexuais pela Igreja] e, portanto, não me surpreende nada que muita gente tenha na sua memória essas vítimas e é óbvio que isso só dá força a esta petição", afirma, sublinhando que a expectativa é "recolher o máximo de assinaturas possível".
"Gostaríamos de chegar às 7500 assinaturas para, dessa forma, poder ser discutida em plenário da Assembleia da República", adiantava esta manhã à TSF, um objetivo que já foi cumprido.
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Tiago Rolino destaca duas questões como as mais importantes desta petição.
"A primeira é sempre recordar as vítimas de abuso sexual que foram estimadas e as que foram realmente confirmadas pelo relatório. A segunda é impedir que este nome do ex-cardeal Patriarca de Lisboa seja dado à ponte, porque nós julgamos que isso também é um cavalgar político. Queremos impedir que isso seja feito à custa das vítimas", explica.
Tiago Rolino espera ainda que a Assembleia da República "esteja solidária com as pessoas que foram afetadas por este caso de abusos sexuais na Igreja".
A nova ponte ciclopedonal que liga os concelhos de Lisboa e Loures, sobre o rio Trancão, na zona oriental da cidade, vai chamar-se Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente, anunciou na sexta-feira a Câmara Municipal de Lisboa.
Nesse sentido, há também já uma petição a favor da manutenção do nome previsto para a ponte, o de Manuel Clemente, por este ter sido "um dos grandes sacerdotes do Patriarcado de Lisboa" e porque "o seu modo de agir e de viver foi sempre um grande exemplo e um modelo de vida cristã e de cidadania".
"Se dar um nome a uma ponte é escolher uma pessoa que se tenha realmente dado à nossa sociedade o nome certo é d. Manuel Clemente. É merecido e é para quem o conhece uma pessoa que merece todo o nosso carinho e reconhecimento", referem os autores na plataforma Petição Pública.
Em comunicado, a autarquia lisboeta revela que o nome da nova ponte, construída a propósito da Jornada Mundial da Juventude e inaugurada em julho, é uma homenagem ao 17.º patriarca de Lisboa, que renunciou ao cargo após ter completado 75 anos.
"Nos 10 anos de mandato enquanto líder da Igreja de Lisboa, D. Manuel Clemente foi o grande impulsionador da Jornada Mundial da Juventude, que nas palavras do patriarca emérito 'será lembrada como um momento decisivo para uma geração que construirá um mundo mais belo e fraterno'", lê-se na nota.
A Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente tem cerca de 560 metros, liga os concelhos de Lisboa e Loures, sendo feita, maioritariamente, de madeira e aço.
A ponte destina-se a peões e ciclistas, integrando a rede de percursos ciclopedonais da região de Lisboa e ligando-a ao concelho de Loures.
A JMJ 2023 decorreu em Lisboa entre 1 de agosto e domingo, dia em que o Papa Francisco regressou ao Vaticano depois de ter chegado a Portugal em 2 de agosto.
O maior acontecimento da Igreja Católica em Portugal juntou cerca de 1,5 milhões de jovens no Parque Tejo (Lisboa) para uma missa e uma vigília, com a presença do Papa Francisco.
*Notícia atualizada às 16h26