Em declarações à TSF, Gustavo Tato Borges deixa críticas ao Governo e diz que fazer o procedimento nos centros de saúde é "tentar mascarar o problema".
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A Associação de Médicos de Saúde Pública rejeita a hipótese da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) ser feita nos centros de saúde. A possibilidade foi admitida na quarta-feira pelo ministro da Saúde, na sequência das auditorias da Entidade Reguladora da Saúde e da Inspeção Geral das Atividades em Saúde.
As duas entidades concluíram que 13 hospitais não fazem o procedimento e apenas 13% dos obstetras estão disponíveis para o fazer. O presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, não esconde a surpresa por estas conclusões.
"Surpreende-me, porque eu sei que há um timing bem definido e que há uma tentativa de organizar esta resposta e também me surpreende o número total de médicos objetores de consciência, que é um direito de cada um e que todos são livres de o fazer, e, por isso, a "falta de oferta" para solucionar este problema. Mas é mais problemático o facto de o Ministério da Saúde desconhecer de forma completa os problemas desta temática e isso é assustador. O ministro da Saúde e a sua equipa, agora que têm conhecimento desta realidade, em vez de atirarem para cima dos cuidados de saúde primários e dos médicos de família, deveriam pensar como organizar esta resposta e desenhar um circuito para que as mulheres que precisam deste serviço possam fazê-lo de forma rápida, fácil e percetível", explica à TSF Gustavo Tato Borges.
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O presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública afirma que a solução não passa pelos centros de saúde e deixa críticas ao Governo.
"A verdade é que nós olhamos sempre para os médicos de medicina geral e familiar como os que fazem tudo e os tapa-buracos, qualquer coisa que não funciona em determinado lugar vai para o médico de família e o médico de família resolve. E não é bem assim que tem que ser feito, tem que ser pensada a resposta mais adequada para a utente e, neste caso, o mais adequado é ir a um médico ginecologista ou obstetra em ambiente hospitalar, um profissional perfeitamente treinado para pensar sua avaliação correta", defende.
Tato Borges considera que os "problemas do processo" têm de ser resolvidos. "Creio que trazer isto para os cuidados de saúde primários é tentar mascarar um problema que existe nesta realidade, como a falta de profissionais que estejam dispostos para o fazer e a falta de profissionais de diversas áreas, nomeadamente da ginecologia e obstetrícia nos hospitais", sublinha.
A União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) tem uma opinião diferente. Manuela Tavares acredita que os centros de saúde podem ser uma solução, desde que estejam garantidas algumas condições.
"Concordamos com essa solução, desde que os centros de saúde tenham possibilidades de o fazer e existam equipas também formadas nesse sentido. Claro que muitas vezes pensa-se que aplicar esta medida no centro de saúde é fácil e que a médica receita o medicamento abortivo, mas não é só. É preciso saber as condições das mulheres, o seu estado de saúde e fazer a ligação efetiva ao hospital", afirma.
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