"A senhoria resolveu fazer-nos um convite para sairmos: um convite no valor de mil euros"
Protesto ficou marcado pela saída escoltada de três deputados do Chega que foram contestados e pelo vandalismo a uma agência imobiliária.
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Milhares de pessoas manifestaram-se este sábado, em Lisboa, exigindo o direito à habitação, mas também a justiça climática, pedindo ao Governo de António Costa e ao Presidente da República mais respostas e uma intervenção mais eficaz.
O protesto iniciou-se pelas 15h00 na Alameda, em Lisboa, e desceu a Avenida Almirante Reis, em direção à Baixa, juntando milhares de pessoas pelo caminho, que se deslocaram a pé ou em carros apetrechados com colunas de som.
A luta pela morada na morada de uma luta própria
A Avenida Almirante Reis encerra em si contrastes avassaladores: ao mesmo tempo que recebe as manifestações de quem não quer perder o seu direito à habitação, é também do seu chão que fazem morada muitas das pessoas que, na cidade de Lisboa, já perderam a casa. Sem um teto, dormem em tendas ou em simples caixas de cartão desmontadas.
Ao longo do percurso, dois manifestantes quiseram conversar com uma pessoa em situação de sem-abrigo e perceber há quanto tempo é que estava na rua, ao mesmo tempo que demonstravam também os próprios alguma desesperança.
Mais no final da Almirante Reis, já perto do Martim Moniz, uma outra mulher em situação de sem-abrigo dormia como se nada fosse. Serena, como se não se ouvisse em fundo o som de um protesto pela habitação.
Ao longo da avenida, a TSF encontrou Inês André. Já tinha estado na manifestação de 1 de abril e, passados praticamente seis meses, "nada mudou".
"Continuamos todos na mesma situação, continuamos todos sem esperança nenhuma no futuro, sem ter nada a que almejar e com a pagar por uma casa pequeníssima", lamentou a manifestante ao lado da irmã, que é dez anos mais velha.
Inês conta que viviam juntas sob um contrato de arrendamento de cinco anos cujo término seria neste verão. "A senhoria resolveu fazer-nos um convite para sairmos que foi um convite no valor de mil euros. Aumentou-nos diretamente a renda em mil euros."
Embora com empregos estáveis e salários "um bocadinho acima, se calhar, da média, não conseguíamos suportar e então tivemos de sair e procurar uma alternativa". Não a encontraram. Vivem ainda em Lisboa, "mas na casa de um amigo" que, nas palavras da própria, as "safou".
E o pacote Mais Habitação também não convence Inês. "Não, não é suficiente a partir do momento em que não vemos valores a baixar, não vemos salários aumentar e não vemos medidas concretas que tenham efeito direto na vida das pessoas e, sobretudo, dos jovens", explica, pelo que "nada muda".
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Os manifestantes, entre os quais se destacavam muitos jovens, gritavam palavras de ordem como "A casa custa, queremos uma vida justa" e carregavam cartazes e faixas onde se podiam ler frases como "Onde estão as casas de quem faz as casas?", "O vosso lucro é a nossa miséria" ou "Mais baldios, menos senhorios".
As plataformas Casa para Viver e 'Their Time to Pay' promovem hoje um conjunto de manifestações pelo direito à habitação e pela justiça climática.
"Lutamos pelo direito à habitação e por permanecer nos espaços, por uma vida digna para todas as pessoas e por medidas que travem a crise climática. Estas são duas lutas contra o capital, que coloca a especulação e o lucro acima da vida", lê-se na informação difundida pelas duas plataformas.
Os protestos começaram esta manhã no Barreiro, Beja, Évora, Portalegre e Tavira.
Da parte da tarde, além de Lisboa, decorreram manifestações no Porto, Aveiro, Braga, Coimbra, Covilhã, Guimarães, Lagos, Leiria, Portimão, Viseu, Samora Correia e Alcácer do Sal.