"Não é o desemprego, são os baixos rendimentos." Vinte mil famílias pedem ajuda à Deco
Estes dados da Deco vêm mostrar que já não é o desemprego que leva os portugueses a pedir ajuda, mas sim o aumento do custo de vida e os encargos com a habitação.
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Até ao final de setembro 20 mil famílias pediram ajuda à Deco. Mais de 60% são pessoas que trabalham e a situação tende a agravar-se, alerta a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor neste Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
Estes dados vêm mostrar que já não é o desemprego que leva os portugueses a pedir ajuda, mas sim o aumento do custo de vida e os encargos com a habitação. Natália Nunes, da Deco, dá conta no Fórum TSF dos números mais recentes.
"Tivemos 20 mil famílias a pedirem-nos ajuda e posso dizer que mais de 60% das famílias que nos pedem ajuda são famílias que estão a trabalhar. Portanto não é o desemprego, não é a diminuição dos rendimentos que as leva a pedir ajuda, a pedir orientação sobre o que fazer. É o aumento do custo de vida, é o peso que a despesa com a alimentação tem no orçamento, é o aumento da despesa da habitação que leva as famílias a terem dificuldades e a procurarem soluções e isto é o cenário a que estamos a assistir em 2022 e 2023 e que tende a agravar-se", explicou Natália Nunes.
Uma situação que tem vindo a complicar-se desde a pandemia.
"Nós viemos da pandemia em que as famílias foram fortemente também prejudicadas pela diminuição dos seus rendimentos. Em 2022 andava aqui alguma expectativa positiva em relação às famílias no sentido de elas recuperarem, mas a verdade é que o aumento da inflação, por um lado, e, por outro lado, o aumento das taxas de juro acabou por deitar por terra toda a expectativa que existia. A verdade é que em 2022 nós tínhamos ainda as famílias que tinham algumas poupanças que conseguiram fazer durante a pandemia a utilizá-la. Neste momento essas poupanças já não existem", acrescentou à TSF a representante da Deco.
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A Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, também compilou alguns dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) para fazer um retrato do nível de pobreza da população portuguesa.
Através deste retrato é possível ficar a saber, por exemplo, que em 2021, e tendo por base as declarações de IRS entregues todos os anos pelos agregados fiscais, "mais de um terço dos agregados (36%) viviam, no máximo, com 833 euros mensais".
No entanto, e tendo em conta os rendimentos declarados, "20% dos agregados fiscais mais ricos ganharam 3,5 vezes mais que os 20% dos agregados mais pobres" e "em concelhos como Lisboa, Porto, Oeiras e Cascais, a diferença é de cinco vezes mais".