Miguel Pinto Luz tem um objetivo traçado para o PSD: "Uma grande maioria absoluta." O candidato à liderança do PSD, em entrevista à TSF, esclareceu que é preciso fazer uma reforma do Estado sem medos, até porque tem havido uma "incapacidade dos políticos" para dar esse passo.
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O candidato ao PSD Miguel Pinto Luz atribui à esquerda a responsabilidade de aprovar o Orçamento do Estado, mas sublinha que para Portugal "não é saudável" viver um cenário de eleições antecipadas, dando o exemplo de Espanha, que tem vivido um impasse político nos últimos anos.
Em entrevista à TSF, o social-democrata ressalva que "o PSD só pode estar contra este Orçamento", sendo este um documento "em linha com os últimos quatro". Porém, reitera, "o PS escolheu um caminho para fazer as suas alianças, a obrigação da garantia da estabilidade governativa nesta situação cabe à esquerda e ao PS". Apesar de ainda não haver certezas sobre as intenções de voto - o Bloco apenas garantiu que não votaria a favor - Pinto Luz está "perfeitamente tranquilo" por acreditar que "esta esquerda vai querer manter o status quo e manter o estado das coisas".
Em reação ao relatório da UTAO que revela a existência de uma receita de 255 milhões de euros que foi omitida, Miguel Pinto Luz aponta o dedo a Mário Centeno, dizendo que "estamos habituados a este comportamento" do ministro das Finanças. "Não temos uma visão otimista do comportamento do senhor ministro no que diz respeito a esconder verbas, a omitir factos, a ter uma política de apresentar um Orçamento no início do ano e depois uma execução completamente diferente daquela que era previsível", afirmou o candidato do PSD.
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Uma "grande maioria absoluta" é o objetivo
Miguel Pinto Luz pretende levar o PSD a "voltar a ser grande". "O PSD só pode ter um objetivo, voltar a ter uma grande maioria absoluta", frisou, enaltecendo que "a esquerda radicalizou-se" e que o PSD tem de ter traçar um caminho para voltar a ser o PSD que já foi no passado.
Questionado sobre o tempo necessário para tornar o partido laranja novamente grande, Pinto Luz lembrou que a sua equipa "tem um projeto para o país", para os portugueses e que vai além do PSD. "No dia a seguir a ser eleito, a nossa equipa está preparada para apresentar uma alternativa ao país e essa é a nossa diferença", reforça, frisando que a sua proposta é diferente da de Rui Rio que usa "as mesmas cartas" do passado.
Pinto Luz acredita que o PSD tem de ser uma "oposição confiável", na qual os portugueses acreditem. "Se o PS apresentar propostas que sejam boas para os portugueses, o PSD deve estar ao seu lado nesse processo", afirmou o candidato.
Desta forma, e caso ganhe as eleições, o possível sucessor de Rui Rio desvaloriza o facto de ter no Parlamento uma bancada que não foi escolhida por si. "É uma bancada do PSD, não é uma bancada de Rui Rio e acredito no sentido de responsabilidade dos deputados e trabalharei com eles", salvaguardou Pinto Luz, recusando avançar com um nome para líder da bancada.
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"PSD tem de dizer de uma vez por todas onde é que quer o Estado"
Uma "vontade reformista" é apontada pelo candidato ao PSD para o futuro do país, na qual propõe privatizar a TAP. "O PSD tem de dizer de uma vez por todas onde é que quer o Estado e onde é que não quer o Estado", sublinhou. E onde é que Miguel Pinto Luz quer e não quer o Estado? "Nas creches, a garantir o pré-escolar que hoje não garante, não quero o Estado na Carris, nos transportes, na TAP", responde, frisando que no caso da Carris "não parece estar a correr bem" e apontando os custos.
No caso da CGD, Pinto Luz explica que "no âmbito do Estado faz sentido em regime concorrencial, com as leis de mercado que existem", realçando que "faz sentido o Estado ter um banco capaz de ser um músculo, um motor económico da economia". Já no que toca aos CTT, o social-democrata "nunca reverteria" a privatização.
"Com este PS é muito difícil uma aproximação" para reforma do Estado
Se há pontos fundamentais para Pinto Luz, a reforma do Estado é um dos objetivos: "Nós temos, de uma vez por todas, fazer aquilo que não concretizámos nas últimas décadas, que é fazer uma verdadeira reforma do Estado." O social-democrata acredita que há uma "incapacidade dos políticos de tomarem decisões, têm sempre medo". A reforma do Estado tem de ser feita "sem medos, sem medo de perder um voto amanhã porque podemos conquistar mais dois ou três daqui a uns anos", frisou.
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O candidato acredita que "há partes da reforma do Estado são possíveis fazer sem o PS com uma grande maioria do PSD", mas noutras, diz, "é preciso aguardar para ter um PS menos radicalizado à esquerda e mais capaz de ter mais sentido de Estado, colocar os interesses nacionais à frente dos interesses das suas clientelas e famílias". "Com este Partido Socialista, com António Costa e os jovens turcos, que têm uma visão mais radical, é muito difícil essa aproximação", atirou o social-democrata.
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Pinto Luz e o "PSD à portuguesa"
Entre um PSD de Passos Coelho que não considera que tenha tido uma atitude de um Governo liberal e um Rui Rio que encostou o partido mais ao centro, Miguel Pinto Luz não se coloca em nenhum lado: "O meu posicionamento ideológico é onde o PSD sempre teve, é junto das pessoas e dos portugueses, da solução dos problemas dos portugueses."
O candidato acredita que a discussão em relação ao posicionamento do PSD, "de uns a dizerem que o PSD se deve recentrar e outros que o PSD se deve virar mais para o centro-direita", não tem de existir, até porque "o PSD esteve sempre um centro de gravidade muito claro para os portugueses, é próximo deles".
Assim, e sem etiquetas, Pinto Luz quer manter um "PSD à portuguesa, que é uma social-democracia muito particular". "O meu PSD é um PSD à PSD, sem divisões, sem dúvidas existenciais nem dúvidas em relação ao nosso posicionamento e centro de gravidade que tão tradicionalmente nos deu grandes vitórias", ressalvou.
Num olhar para a atualidade e para o excedente orçamental, Pinto Luz assegura que se percebe "onde podíamos ir buscar recursos para realocar em áreas onde são necessárias", nomeadamente na Saúde e na Educação. O candidato acredita que a escola pública, por exemplo, "cristalizou" e é preciso "transformar a escola pública em fundações como no ensino universitário".
"PSD não fica transformado" por ter acordo com o Chega
Já no que toca ao Chega, um tema que passou a fazer parte da campanha à liderança do PSD, Pinto Luz realça que o partido tem "muitas políticas populistas e extremistas", mas recusa colocar "selos". Preocupado com algumas das posições do partido, o social-democrata não põe de parte acordos com o partido liderado por André Ventura para que "a esquerda não continue a destruir valor".
Contudo, os valores dessas alianças serão os do partido e "o PSD não fica transformado" por fazer acordos que permitam uma governação.
* com Anselmo Crespo e Nuno Domingues