O presidente da associação de produtores de cereais afirma que o preço do trigo está a atingir "valores nunca antes vistos".
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Portugal produz apenas 5% do trigo de que precisa e o preço dos cereais tem sofrido sucessivos aumentos desde o início da guerra na Ucrânia, mas José Palha, presidente da associação de produtores de cereais, acredita que não haverá falhas no fornecimento. Já a subida dos preços é inevitável.
O trigo consumido no país é comprado maioritariamente a França, pelo que "não será de todo espectável que venha a faltar pão na mesa dos portugueses, mas o preço sim, o preço terá que aumentar porque o preço da matéria-prima está em valores nunca antes vistos nesta ordem de grandeza para o trigo", afirma José Palha em declarações à TSF.
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Isso mesmo garantiu esta terça-feira a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes: "Neste momento, e atendendo ao material que está em stock, aos navios que estão a chegar e aos contratos que estão firmados, não se antevê que haja rutura no fornecimento de cereais em Portugal".
José Palha explica que o preço do trigo está tabulado internacionalmente, tendo em conta vários fatores: o preço mínimo de intervenção definido pela União Europeia -- "valor abaixo do qual o cereal não pode ser comercializado e se for a União Europeia intervém para que o agricultor receba um mínimo por tonelada transacionada"; o custo de produção e, sobretudo, a lei da oferta e da procura.
"Quando há um excesso de produção num continente o preço baixa, quando há um défice de produção por secas, fogos, ou o que seja que leve a mais procura, o preço sobe."
Antes da invasão russa, os preços dos cereais já estavam a aumentar devido à grande procura da China, e com o início da guerra "houve uma pressão muito maior".
Também a alimentação para animais não deverá faltar, mas o preço "já está em valores altíssimos", uma vez que Portugal importava cerca de 30% dos cereais necessários da região do Mar Negro e teve de passar a recorrer à América do sul "com custos mais elevados por conta dos fretes marítimos ou da distância".
José Palha apela a uma intervenção política no sentido de criar incentivos para produção nacional de cereais "à semelhança do que existe em dez países da União Europeia e do que já existiu em Portugal há cerca de 15 anos."
Com essa ajuda e a tecnologia disponível, o presidente da associação de produtores de cereais acredita que seria possível passar a assegurar 20% das necessidades de trigo, em dos atuais 5%, no prazo de três anos.