Os jovens espanhóis que frequentam a escola portuguesa e gostam de bacalhau à Brás

Rui Manuel Fonseca/Global Imagens (arquivo)
Na escola de Vila Nova de Cacela já há oito crianças do lado de lá da fronteira a frequentar o ensino.
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Angel, Nur, Marcus, Sofia, Daniela e Angela são alguns dos jovens espanhóis que frequentam a escola EB 2,3 Infante D. Fernando em Vila Nova de Cacela, no concelho de Vila Real de Santo António.
Há cerca de quatro anos, uma família espanhola decidiu passar a fronteira e colocar o seu filho a estudar no país vizinho, Portugal. Depressa passou palavra sobre as "virtudes" do ensino português e começaram a chegar outras crianças de diferentes famílias.
Quando veio a segunda família com dois filhos, o Marcus e o Nacho, a coordenadora da escola quis saber o porquê deste interesse por aquela pequena escola, que não tem mais de 300 alunos. A mãe respondeu que "Portugal está na lista dos 10 países com melhor ensino", conta Ana Cabrita.
"Apesar da crise porque estamos a passar, sinto que com aquilo que temos, damos todos os dias o nosso melhor", adianta a professora.
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Para os pais espanhóis que moram em Isla Cristina ou Isla Antilha, localidades situadas para lá de Ayamonte, vale a pena o sacrifício de fazer mais quilómetros. Passam a ponte sobre o Rio Guadiana e trazem e vêm buscar os seus filhos diariamente. "Falavam maravilhas desta escola e dos professores", esclarece Mónica Delgado. É a mãe de Nur, uma menina que frequenta o 8.º ano. "Aquilo de que gosto é do envolvimento de toda a gente desta escola com os alunos, eles vêm para aqui com gosto", garante.
Ali, todos os professores e funcionários sabem o nome das crianças, a escola vive como uma família. O pequeno estabelecimento de ensino, com alunos de 12 nacionalidades, tenta fazer a diferença também entre os jovens que vivem do lado de lá do rio Guadiana.
Nur, 13 anos, já estabeleceu novas amizades na escola. Admite que lhe custou deixar os amigos do lado de lá da fronteira, mas tem um objetivo claro: ter uma nova experiência de vida e aprender uma nova língua. Marcus, 14 anos, é outro jovem que, com o irmão, se desloca diariamente para a escola de Vila Nova de Cacela." Os meus pais acham que o ensino é melhor e as professoras também", afirma. Está cá há um ano, mas já fala bem português.
Para Sofia, a jovem espanhola que foi pioneira na escola de Vila Nova de Cacela, esta experiência serviu para perder o medo do desconhecido e no próximo ano letivo vai estudar para a Irlanda, para aprender bem inglês. No entanto, o seu projeto de vida passa por querer voltar a estudar em Portugal.
Alguns dos estudantes entrevistados consideram que neste país há disciplinas mais exigentes do que em Espanha, sobretudo a matemática. Outros têm opinião diferente, mas todos são unânimes em afirmar que aqui o meio escolar lhes dá mais atenção.
Os jovens frequentam a disciplina de português, língua não materna, e já começam aos poucos a falar e a escrever o idioma, essencial também para aprender as restantes disciplinas. A professora Ana Cabrita conta que até já aprenderam a gostar da comida portuguesa servida na cantina.
"Comem sopa e adoram o bacalhau à Brás, a que eles chamam: bacalhau dourado", diz a rir.