A Jornada Mundial da Juventude vai ter uma rádio em onda média, para ser usada na audiodescrição. A ideia é descrever o que está a acontecer para que os cegos também possam "ver" e emocionar-se como as outras pessoas.
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O trabalho envolve uma pequena equipa liderada por Josélia Neves, que vive e trabalha no Qatar, onde se estreou na audiodescrição de um grande evento, no ano passado, no Mundial de futebol.
Agora, a professora de tradução audiovisual inclusiva vai fazer a audiodescrição da JMJ, como se tratasse de "uma radionovela". Os episódios dividem-se em três: primeiro, a descrição ao vivo durante quatro celebrações; depois, a descrição dos espaços, colocada nas entradas dos recintos, "para que a pessoa cega possa ver de forma mais clara com a ponta dos dedos" e ainda a descrição de elementos simbólicos, como a Cruz peregrina, a imagem da Senhora de Fátima, o logótipo ou os confessionários. Neste caso, o material gravado está disponível na Internet, "para que as pessoas cegas possam chegar (ao recinto) já com noção do que vai existir".
Josélia Neves explica que "cada pessoa vai ter o próprio rádio", usará também os auriculares pessoais ou simplesmente, levará a rádio ao ouvido, para escutar a audiodescrição que será emitida em onda média.
Nos momentos em direto, o audiodescritor tem de ser levado pela emoção, "absorver através dos olhos e da pele, a energia que existe" no espaço. É um "nível de emoção diferente" aos dos jogos de futebol, garante Josélia, mas "a nossa obrigação será dar à pessoa cega, informação suficiente para que ela também se emocione e participe, na mesma medida da pessoa que vê".
A professora de tradução audiovisual sublinha que a audiodescrição "tanto serve à pessoa cega como serve à pessoa que vê, porque a audiodescrição acaba por orientar o olhar, acaba por justificar aquilo que vemos".