"Três cartazes à beira da estrada." Internautas angariaram quase três mil euros para lembrar vítimas de abuso
Quase 300 pessoas participaram na angariação de fundos para colocar três cartazes em Lisboa, Loures e Oeiras durante os próximos dias. Ideia surgiu no Twitter, de um "assomo de indignação", e visa lembrar que houve mais de 4800 menores abusados por membros da Igreja Católica em Portugal.
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Não é o multipremiado filme "Três Cartazes à Beira da Estrada", mas o objetivo é o mesmo: alertar para uma situação e expressar indignação com a velha publicidade dos outdoors. É isso que vai acontecer ao longo das próximas semanas com três cartazes financiados por utilizadores do Twitter e que lembram, numa estética semelhante à do design da Jornada Mundial da Juventude, que "mais de 4800 crianças foram abusadas pela Igreja Católica em Portugal".
E, desde logo, uma nota prévia: os mobilizadores desta iniciativa não querem dar entrevistas de viva voz porque "personalizar a uma cara ou uma voz é retirar o foco do essencial". À TSF, João Peixoto, que esteve na génese da ideia, vinca que "as vozes a quem deveriam dar atenção mediática são as das vítimas e, as caras, as dos responsáveis pela instituição que permitiu que este tipo de abuso fosse estrutural, que permitiu e permite ainda impunidade".
Mesmo sem gravar entrevista, o grupo de cinco pessoas que está a operacionalizar esta ação (e a que se juntaram muitos mais para ajudar) explica por escrito: "isto surgiu em cima do joelho e de um assomo de indignação, com muito pouco tempo de preparação, mas estamos a fazer o melhor possível para que saia disto algo que dignifique as vítimas".
E atenção conseguiram: 287 pessoas juntaram um total de 2926 euros, em poucos dias, para colocaram estes três cartazes que partiram do design de Telma Tavares.
"A Telma fez o design, que é tão bom que imediatamente juntou algum burburinho no Twitter, o Bruno acendeu a faísca lançando para o ar: 'pagava para ter isto na segunda circular', eu e outros aprovámos logo a ideia e começámos logo a trabalhar", diz João Peixoto quando abordado pela TSF e frisando que nenhum deles se conhece pessoalmente.
Juntado o dinheiro, saberemos nos próximos dias as localizações exatas dos cartazes, mas eles estarão em sítios com a maior visibilidade possível nos concelhos de Lisboa, Oeiras e Loures.
Além disso, os cartazes estarão em inglês para poderem ser lidos pelo maior número de pessoas e o material gráfico está disponível para partilha no site entretanto criado para divulgar a iniciativa.
De resto, o site menciona que a iniciativa pretende "denunciar o silêncio ensurdecedor, lutar contra o apagar das vítimas da agenda mediática, focada na celebração da instituição que as remete ao silêncio e trazer para a luz do dia aquilo que querem que fique atrás de uma porta fechada e de um sorriso paternalista".
"Queremos fazer perguntas: o que fez a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) para impedir que o ciclo de abusos se perpetue? O que fez a ICAR para colaborar com a Justiça? O que tem o Sumo Pontífice a dizer às vítimas e aos portugueses?", lê-se.
Questionados pela TSF sobre se esperam que haja algum reconhecimento de algum tipo durante a JMJ, dizem que "era o mínimo que a ICAR poderia fazer para começar o caminho que ainda não fez, de reconhecer as suas responsabilidades, atuar na punição de responsáveis e implementar mudanças que evitem futuros casos".
Protestos escritos nas ruas da cidade
A indignação não se resume apenas a este caso, mas a muitos outros. Por exemplo, na Segunda Circular, já estão outros cartazes alusivos à JMJ como é o caso do da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) que recorre a uma ilustração de vários agentes a carregar uma cruz. "MAIs uma cruz que carregamos", lê-se no outdoor numa alusão ao ministério da Administração Interna.
Também outros cartazes, com a estética da JMJ, estão espalhados pela cidade como este abaixo, na Avenida da Liberdade, que critica o facto de prisioneiros terem construído os confessionários para esta iniciativa da igreja.