Otelo sem luto nacional? Marcelo lembra que também Salgueiro Maia não teve homenagem
Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de enaltecer a grandiosidade de Otelo Saraiva de Carvalho.
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O Presidente da República acredita que o Governo não decretou dia de luto nacional pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho porque, no passado, outros nomes com a mesma relevância não foram alvo de tal distinção. À entrada para a capela da Academia Militar, em Lisboa, para o velório de Otelo, o Chefe de Estado deu conta do que lhe parece que aconteceu.
"Para o Governo penso que pesou o facto de figuras que já referi, como Salgueiro Maia e Melo Antunes, não terem merecido essa homenagem. Olhando para trás é pena que não tenham merecido. Na altura não ocorreu e para não abrir um debate sobre qual o mais cimeiro entre estes nomes, o Governo não deu esse passo", explicou Marcelo Rebelo de Sousa.
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Marcelo sublinhou que as polémicas em torno do percurso de Otelo Saraiva de Carvalho, depois do 25 de Abril, não pesaram para a decisão de não haver luto nacional e reiterou que cabe agora à história fazer a avaliação definitiva.
"Não. Isso é um juízo que a história fará. A história está cheia de personalidades que marcam momentos históricos e, no entanto, antes e depois, foram controversas e tiveram momentos em que suscitaram paixões e que suscitaram rejeições. Isso faz parte da história e nós, quando aceitamos a história, aceitamos como um todo", disse o Chefe de Estado.
Por isso, Marcelo fez questão de enaltecer a grandiosidade de Otelo Saraiva de Carvalho.
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"Otelo Saraiva de Carvalho no 25 de Abril e no momento do comando operacional teve um papel para a história. Um papel cimeiro e proeminente que devemos todos respeitar e associar ao que foi o 25 de Abril na viragem de uma ditadura para a liberdade e democracia", acrescentou o Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa esteve alguns minutos dentro da capela onde decorre o velório e onde estão diversos membros da Associação 25 de Abril, entre eles, o presidente, Vasco Lourenço, que Marcelo Rebelo de Sousa cumprimentou.
Uma fila permanentemente com várias dezenas de pessoas está desde antes das 16h00 à porta da capela da Academia Militar.
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Muitos dos que a integram levam cravos vermelhos, o símbolo da revolução de 25 de abril de 1974, que derrubou a ditadura do Estado Novo.
Além do Presidente da República, já passou pelo velório de Otelo Saraiva de Carvalho o Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, que lembrou que decretar o luto nacional cabe apenas ao Governo.
"Quem decide o luto nacional é o Governo e, portanto, respeito a decisão que foi tomada. Compreendo que, neste momento, essa é uma questão que não se coloca. As homenagens ao Otelo podem ser feitas nesse contexto ou noutro, bastante mais tarde", afirmou Eduardo Ferro Rodrigues.
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Otelo Saraiva de Carvalho morreu no sábado, aos 84 anos. O funeral está marcado para quarta-feira. Nascido a 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, atual Maputo, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.
No Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.
Depois do 25 de Abril foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.
Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por dezenas de atentados e 14 mortos, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado cinco anos depois, uma decisão que levantou muita polémica na altura.