Pizarro defende que horas extra são "indispensáveis" ao funcionamento do SNS há 44 anos
O responsável pela pasta da Saúde diz ter "absoluta confiança nas qualidades profissionais e deontológica dos médicos" e garante que "não estarão em causa serviços que sejam verdadeiramente indispensáveis para as pessoas".
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O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, sublinhou esta segunda-feira que a realização de horas extra por parte dos médicos é uma condição "indispensável" para o bom funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, por isso, promete estar a fazer "de tudo" para conseguir uma "aproximação de posições" com este setor.
Em declarações aos jornalistas, à margem da apresentação das "4 Agendas Mobilizadoras da Saúde", em Matosinhos, Manuel Pizarro afirma que se os médicos não continuarem a fazer horas para além daquelas que lhes são legalmente exigidas, "não há forma de o sistema funcionar".
"Mas isso não aconteceu agora. Foi sempre assim. Nos últimos 44 anos, só foi possível que as urgências funcionassem porque os médicos aceitaram fazer um número muito elevado de horas extraordinárias - que eu reconheço que são muito penosas do ponto de vista da sua via pessoal, mas que são indispensáveis", explica.
O responsável pela pasta da Saúde afirma estar "preocupado" com a recusa de muitos médicos em fazer horas extraordinárias e revela esperar que a reunião da próxima quarta-feira com a Ordem dos Médicos consiga uma "reaproximação de posições entre o Ministério da Saúde e os médicos".
"Devo dizer que, consciente da insatisfação de grande parte dos médicos e não ignorando que parte significativa dessa insatisfação tem que ver com as negociações recentes, também devo dizer que tenho absoluta confiança nas qualidades profissionais e deontológica dos médicos e devo dizer que, no fim do dia, não estarão em causa serviços que sejam verdadeiramente indispensáveis para as pessoas", assegura.
Confrontado com a possibilidade de os médicos continuarem com a escusa a horas extra e questionado sobre a contratação de médicos tarefeiros, Manuel Pizarro admite que essa é uma hipótese, mas destaca que o "sistema não será igual em todos os locais e em todas as especialidades".
"Há especialidades sem as quais as urgências não podem funcionar. Há outras especialidades nas quais é possível imaginar, em alguns casos, que o funcionamento em rede possa manter o bom atendimento às pessoas sem criar dificuldades excessivas. Em alguns casos, é possível a contratação de médicos tarefeiros, noutros casos, isso não é possível", esclarece, afirmando que isso "tem de ser visto caso a caso".
"Olho com preocupação e com a total determinação para fazer tudo ao meu alcance para que se recupere uma ligação de confiança entre os médicos e o Ministério da Saúde e o SNS, que é um serviço indispensável", reforça, adiantando ainda que esta é uma área onde está a fazer "todos os esforços para que as negociações tenham resultados efetivos".
Sobre a apresentação de um plano que previa uma diminuição dos constrangimentos do funcionamento de muitas maternidades portuguesas, o ministro da Saúde diz "desconhecer totalmente".
"O plano que nos foi apresentado foi o possível para os recursos humanos existentes", explica, afirmando que o Programa Nascer em Segurança prova que o Ministério foi capaz de devolver "segurança e tranquilidade ao setor".