Dados da Direção-Geral de Energia e Geologia mostram que a maior parte do petróleo que chega a Portugal tem o Brasil como origem. Francisco Ferreira defende que a Europa pode ultrapassar a dependência da matéria-prima russa.
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Portugal não está a contribuir para os cerca de 260 milhões de euros que a União Europeia paga diariamente pelas importações de petróleo russo, um valor revelado pela organização ecologista Transport & Environment (T&E).
O representante da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente em Portugal é Francisco Ferreira, ambientalista da ZERO, que assinala que as estatísticas da Direção-Geral de Energia e Geologia"mostram que Portugal nos últimos anos - em particular em 2021 e já em janeiro de 2022 - não teve entrada de petróleo russo". O país foi buscar esta matéria-prima a outros países, sendo a principal proveniência, "com cerca de 38,5%, o Brasil, a seguir a Nigéria, com 21,8%, depois Azerbaijão e Estados Unidos".
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Se Portugal está livre do petróleo russo, há entre vários países casos de uma dependência "fortíssima e que representa grandes receitas". Um destes casos é o da Alemanha que, em 2021, pagou 23,6 mil milhões de dólares à Rússia pela importação, "que ronda os 30% da entrada de crude", uma percentagem "ainda significativa para um país de grande dimensão", mas não tão alta como a da Eslováquia, dependente a 100% do crude russo.
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Confrontada com estes valores, a Europa deve encontrar alternativas ao petróleo russo, defende Francisco Ferreira. O volume da importação de petróleo que a Europa faz da Rússia é "efetivamente ultrapassável" porque "apenas uma percentagem relativamente pequena, de 4 a 8%, chega por oleoduto".
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A maior parte do petróleo "entra por navio e esses petroleiros podem vir de outros locais, não há um problema infraestrutural", garante o ambientalista, que deixa o apelo para se usar "esta oportunidade para efetivamente apostar na independência da Europa no que respeita ao principal uso do crude, que é a sua refinação para gasóleo e gasolina".
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Uma das soluções é a aposta nos transportes elétricos. "Temos de banalizar a possibilidade de carregar veículos e usar o aumento que o Governo disponibiliza em termos de comparticipação na compra de um veículo elétrico", numa aposta que defende dever ser feita, em Portugal e na Europa, a médio e longo prazo.
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"No curto prazo, ponderar efetivamente um embargo ao petróleo russo, sendo que no caso de Portugal isso até já foi conseguido por não termos importações", assinala.
Já acabar com a ligação ao gás é "mais complicado do que o petróleo, porque há uma dependência grande". Ainda assim, há também disponibilidade de países "como o Canadá e os EUA para fazerem esse fornecimento de gás à Europa".
A questão não se coloca para Portugal porque, explica Francisco Ferreira, "temos apenas 10% de gás proveniente da Rússia e conseguimos ir busca-lo a outros locais".
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Mas numa perspetiva mais ampla, há de facto um problema a ganhar forma: "Os grandes gasodutos que percorrem a Europa estão, efetivamente, a usar uma quantidade muito significativa de gás russo que, se houver um corte, neste momento põe em causa a segurança de abastecimento."
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