Portugal "pode ser pioneiro" na construção de uma "sociedade sustentável e inclusiva"
Na Grande Cimeira do Fórum da Sustentabilidade e Sociedade, Elisa Ferreira alerta que a descarbonização não significa desindustrialização e a pandemia mostrou isso.
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Elisa Ferreira, comissária europeia para a Coesão e Reformas, considera que Portugal pode assumir um papel pioneiro se aproveitar as oportunidades para liderar a transição sustentável e verde.
"Portugal pode efetivamente ser pioneiro e mudar a sua realidade para melhor. Este é o desafio do futuro. Esta é a sociedade sustentável, inclusiva, equilibrada que queremos construir", disse Elisa Ferreira.
Na Grande Cimeira do Fórum da Sustentabilidade e Sociedade, a comissária europeia afirma que "um futuro sustentável e inclusivo é algo que convoca Portugal, que em algumas partes da sua história esteve à frente a nível de inovação".
"Convoca-nos enquanto país que sejamos capazes de liderar a mudança", acrescentou.
A União Europeia, "já em 2019", posicionou-se e "propôs aos cidadãos o pacto verde", de forma a "dar um sinal", já que "a Europa tinha de estar na linha da frente".
"O Pacto Ecológico Europeu consagra um novo modelo económico, visando tornar a União Europeia no primeiro continente neutro em termos de emissões de carbono, sem deixar ninguém para trás, tentando levar todas as regiões da Europa, todos os cidadãos a serem parte deste processo, evitando esquecimentos e evitando que os mais fracos não consigam acompanhar a pedalada dos da frente", afirmou Elisa Ferreira.
Para a comissária europeia, a Covid-19 "mostrou que é possível apostar num estilo de vida mais local", graças às tecnologias que permitem comunicar à distância.
Além disso, o atual conflito na Europa mostrou que a transição sustentável ao nível energético tem de ser feito, não só pelo lado ambiental, mas de segurança.
"A agressão da Rússia contra a Ucrânia deixou claro que todos os países europeus têm de acelerar a transição energética. Como se percebeu, não havia só objetivos ambientais em causa, mas também objetivos de segurança, porque todos nós percebemos que a energia acabou por ser uma arma de guerra", disse Elisa Ferreira no discurso de encerramento do primeiro dia da cimeira.
Para isso acontecer, a comissária europeia refere que "os políticos estão pelo menos a tentar fazer alguma coisa" e que pode estar a resultar, já que "a poupança de energia este ano na União Europeia foi histórica" e o preço do gás é hoje mais baixo do que antes do início da guerra, graças aos esforços da União Europeia.
De regresso à Covid-19, Elisa Ferreira revelou que "a comissão europeia propôs-se a ir aos mercados e endividar-se" pela primeira vez, de forma a relançar a economia dos países no pós-pandemia.
Mas não de qualquer forma: "Não vamos relançar a economia nas bases do passado. Vamos olhar para o futuro."
"O investimento de dois biliões reforçado com esta ida aos mercados gera cerca de 600 mil milhões de euros", refere.
"Isto significa de cerca de 600 mil milhões de euros estão destinados a esta mudança. Este é o maior pacote de investimento ecológico de sempre da UE, em que a política de coesão é o centro", acrescenta a comissária europeia para a Coesão e Reformas, afirmando que "para que Portugal faça esta mudança" há 6,2 mil milhões.
Além desse endividamento e dos fundos orientados para o desenvolvimento sustentável, "havia verbas que estavam alocadas a outros objetivos e propõe-se uma reprogramação".
"Não podemos descurar a dimensão industrial deste esforço. Descarbonizar - isto é importante para Portugal - não significa desindustrializar. Pelo contrário, a Europa percebeu que tem de continuar a ter indústria, porque até as indústrias mais fortes, como a automóvel, tomou uma consciência muito nítida durante a Covid que nesta ideia de externalizar que os mercados sugeriam que era mais viável gerou nichos de insustentabilidade absolutamente perigosos. Se faltam os microchips para os carros, a indústria automóvel para", recorda Elisa Ferreira.
Por isso, diz a comissária europeia, "é importante que a juventude pegue nos processos de indústria".
"Não há soluções únicas, por isso as políticas e estratégias têm de ser de desenvolvimento e tem de pegar nas valências de cada território", avança Elisa Ferreira, dando a China como exemplo para a importância da transição sustentável: "A própria China, que estava muito relutante, também já está a mudar."