Projeções económicas: Medina otimista, PSD diz que ministro nem teve tempo de mudar discurso

António Pedro Santos/Lusa
No Parlamento, Jorge Paulo Oliveira atirou que os dados da Comissão Europeia são "tão quentinhos, tão quentinhos", que não deram margem para "atualizar o discurso".
As projeções da Comissão Europeia para a inflação e para o crescimento da economia Portugal parecem não afetar o ministro das Finanças. O PSD ainda tentou "picar" Medina, dizendo-lhe esta tarde, no parlamento, que são dados "tão quentinhos, tão quentinhos" que o ministro nem teve tempo para "atualizar o discurso do Governo", mas parece ter pouco efeito.
Na audição na Comissão de Orçamento e Finanças, que acontece esta sexta-feira no âmbito da discussão na especialidade da proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), Fernando Medina viu o copo meio cheio, mesmo perante um orçamento apresentado "em tempos de grande incerteza e adversidade".
O confronto de ideias chegou por Jorge Paulo Oliveira, do PSD. "A Comissão Europeia reviu hoje mesmo em alta a inflação, apontando em termos acumulados para os 14,3%. São dados quentinhos que vêm em dia não para o Governo. Tão quentinhos, tão quentinhos, que não deram tempo ao senhor ministro para atualizar o discurso do Governo."
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Ora, sem comentar diretamente o argumento social-democrata, Medina respondeu com otimismo: "Segundo as projeções hoje apresentadas, Portugal crescerá mais do que a União Europeia." Bruxelas prevê, para este ano, um crescimento de 6,6% do PIB português, em contraste com os 3,3% previstos para a UE.
Medina assinala que a "diferença significativa das projeções da Comissão face às que o Governo inscreveu no OE" passa pela "procura externa dirigida à economia portuguesa". Ou seja, as projeções em relação a Portugal são apresentadas, "num contexto de grande incerteza, por estimativa de maiores dificuldades dos nossos parceiros comerciais". Nestes, por exemplo, insere-se a Alemanha, que já fala em recessão.
O ministro das Finanças afirmou também que o choque de preços vai continuar a marcar a vida de todos, uma vez que, apesar de se prever uma redução no próximo ano, a inflação continuará elevada.
"A inflação é uma das variáveis mais difíceis de antecipar, mas é seguro afirmar que o choque de preços continuará a marcar a vida de todos", disse Fernando Medina, assinalando que as últimas previsões antecipam uma descida da inflação em 2023, colocando-a em níveis ainda elevados, entre os 4% e os 5,8%.
"Vários indicadores apontam para reduções de preços de transportes e matérias-primas nos mercados internacionais, que terão certamente impactos estruturais na formação dos níveis de preços, sendo ainda cedo a avaliação dos seus impactos", apontou.
Fernando Medina destacou ainda que os bancos centrais deverão prosseguir a subida das taxas de juros.
"Nas previsões disponíveis de mercado, poderão subi-las [as taxas de juro] ainda em 2023, colocando-as no valor mais elevado em vários anos. Este é um desafio que convoca Estado, bancos, famílias e empresas a um novo contexto da política monetária no qual teremos que viver", vincou.
Ainda assim, o ministro da tutela, perante os dados disponíveis, acredita que Portugal "está em condições de voltar a ter em 2023 uma economia com melhor desempenho entre as economias europeias".