"Quem canta seus males espanta." Festival "vozes que (in)spiram" mostra como ser parte de um coro "limpa" a mente
Até 26 de outubro, Linda-A-Velha, em Oeiras, vai receber o primeiro Festival de Coros e Saúde Mental. Num destes finais de tarde, a TSF foi aos ensaios tentar perceber o que uma coisa tem a ver com a outra
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São 19h00 e a azáfama antes do ensaio dá vida aos corredores do Centro Cultural de Algés. Os coralistas, membros do (In)Temporal Chorus, vão chegando e as conversas cruzam-se no caminho para a sala onde, daqui a pouco, hão de ouvir-se vozes ao alto.
É um encontro de fim de tarde, após o dia de trabalho para muitos. Um momento para fugir à rotina para quase todos.
São mais mulheres do que homens, mas há gente de todas as idades. Quase sempre, quando chegam, a expressão é mais "pesada", mas, à medida que a música toma conta do tempo, o ambiente vai ficando mais leve.
No final, reconhece o maestro Alberto Araújo, há sorrisos que, à chegada, pareciam desaparecidos.
Entre as vozes deste grupo, há quem "vá a todas", como Amélia Rodrigues, de 75 anos. Ela é fado, cante alentejano, música antiga ou mais tradicional, num sorriso musical que lhe enche a vida e os dias.
Há também Olena Bordanova, uma ucraniana que escolheu Portugal para viver, por causa de uma guerra que se arrasta. Para ela, o coro é uma "janela" para o "novo" país e uma forma "mais fácil" de aprender português, rodeada de gente com "muita paciência".
Há Julieta Monteiro, reformada, a quem, por vezes, custa "sair do sofá", mas que, confessa, no final, "vale sempre a pena".
E Frederico Pais, que vem de longe, ainda muito ocupado, mas a verdade é que não lhe passa pela cabeça "viver sem a música".

São coralistas do (In)Temporal Chorus, um grupo com um repertório variado, onde, garante Nadine Mesquita, a presidente da associação que suporta o grupo, se canta de tudo. Afinal, "quem canta, seus males espanta" e há estudos que demonstram os muitos benefícios de partilhar a voz. E, se for com amigos, "melhor ainda".
Em busca de entender melhor esses benefícios, de 24 a 26 de outubro, o (In)Temporal Chorus organiza o primeiro Festival Coros e Saúde Mental.
Nos próximos dias, pelo Palácio dos Aciprestes, em Linda-a-Velha, no concelho de Oeiras, vai haver concertos, palestras, workshops e tertúlias.
Entre os participantes, há educadores, maestros, cantores, psicólogos e gente de várias áreas da arte, como Tiago Pereira, criador do projeto "A música portuguesa a gostar dela própria", e o maestro Paulo Lourenço, professor na Escola Superior de Música de Lisboa e antigo maestro assistente do Coro Gulbenkian.