"Queremos votar mas não conseguimos." Portugueses em Madrid e Reino Unido impedidos de exercer direito de voto
Em Espanha, dezenas de portugueses queriam votar e não vão poder. O boletim de voto que já deveria ter chegado por correio ainda está a caminho.
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Há dezenas de portugueses em Madrid que estão a ser impedidos de exercer o direito de voto nas legislativas deste domingo. Inscreveram-se, para votar por correio, mas alegam que a carta nunca chegou e agora também não têm autorização para votar presencialmente no consulado de Madrid.
João Nazaré Sousa, um dos portugueses que se dizem impedidos de votar, explica que estranhou a ausência do postal na caixa do correio, e esta semana pediu informações à embaixada, mas a informação que recebeu foi errada e não vai conseguir votar. "Queremos votar mas não conseguimos", lamenta.
"O voto é por correio. É enviada, com antecedência, uma carta registada, com o boletim de voto, que tem de ser devolvida, tem de chegar até 9 de fevereiro e tem de ser enviada até dia 29, que é hoje." João Nazaré da Sousa esclarece que, na monitorização da correspondência, não aparece a localização atual. "O que é que se passa com a minha carta e com a de muitos outros portugueses? Não chegou. Há um 'tracking' [acompanhamento] desta carta, e a última informação é de que chegou a Espanha no dia 8 de janeiro, e desde então está em trânsito, não há atualização."
João Nazaré Sousa revela que, em seguida, foi impedido de votar através da modalidade presencial. "Há uns dias, liguei para o consulado para saber o que acontecia se a carta não chegasse, e aquilo que me foi transmitido foi que podia ir votar presencialmente ao consulado, no dia 29. Fui lá hoje e disseram que não podia votar porque não estava inscrito para votar presencialmente."
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Por isso, o eleitor português tece críticas à organização do ato eleitoral no estrangeiro. "Essa gestão teria de ter sido feita até 5 de dezembro, para votar presencialmente no consulado. Eu não o fiz porque não fui avisado."
João Nazaré Sousa aponta que há mais de 38 mil portugueses inscritos para votar em Espanha, e, de acordo com a informação que recebeu do consulado, neste fim de semana pouco mais de uma dezena inscreveram-se para o voto presencial. "O que nos foi transmitido foi que só há 14 pessoas inscritas para votar presencialmente no consulado de Madrid. Olhando, por exemplo, para o número das eleições de 2019, há 38 mil inscritos em Espanha." O eleitor português garante que esta gestão "não foi bem divulgada".
"Não sei de ninguém que o tenha conseguido fazer", nota, falando em várias falhas: "a parte do envio das cartas" - muitas cartas "não chegaram ao destino e essas pessoas não podem votar" -, a informação fornecida pelo call center - que deve ser outra "empresa subcontratada", apesar de ser veiculado "no Google" que se trata do contacto do consulado. "O meu voto este ano não vai poder valer, nem o de muitos outros portugueses, aqui em Madrid", reivindica João Nazaré Sousa.
Problemas no voto postal no Reino Unido. "Cidadãos portugueses no Reino Unido deviam ter recebido uma carta para votar", mas muitos não a receberam
Também no Reino Unido, o voto postal está a causar grandes problemas, e ao longo do dia, têm sido vários os portugueses que procuram votar no consulado e vêm essa possibilidade negada porque não tinham manifestado previamente essa vontade.
Filipa Fonseca, cidadã portuguesa e residente no Reino Unido, está nessa situação. "Cheguei lá por volta das 13h00 e pelo que me apercebi dos funcionários do consulado, parece que toda a manhã tiveram a receber portugueses, e não só, também falei com um senhor natural de Goa, de cidadania portuguesa e também ficou muito desiludido porque queria votar nas eleições em Portugal e infelizmente não podia", explica, em declarações à TSF.
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As falhas na votação por correspondência terão sido a vários níveis. Em primeiro lugar, a falta de informação de que o voto seria preferencialmente por carta. Contudo, a carta nunca chegou a muitos portugueses. "Um casal português que vive cá há 10 anos e é casado há cinco, têm ambos o cartão de cidadão a indicar a morada no Reino Unido e depois acontece coisas curiosas: a esposa recebeu a carta para votar e o marido não recebeu a carta."
O espanto é grande, até porque no ano passado, como lembra Filipa Fonseca, as eleições ocorreram de forma diferente.
"Com as votações para a Presidência da República não houve problemas, as pessoas dirigiram-se ao consulado de Portugal em Londres, as pessoas votavam presencialmente, não houve drama." Mas desta vez houve.
"Este ano as coisas foram diferentes porque, supostamente, cidadãos portugueses residentes no Reino Unido com cartão de cidadão e com morada indicada que moram no Reino Unido deviam receber uma carta para votar. Não sabia que me iam enviar essa carta. Ainda não sei se recebi essa carta ou não, mas estou curiosa para saber se a vou receber", diz.
Para votar presencialmente era necessário ter feito esse pedido previamente. Dos 126 mil portugueses que vivem no Reino Unido, poucos o terão feito.
Filipa Fonseca afirma que na manhã deste sábado "havia supostamente uma lista de 23 pessoas para votar presencialmente no consulado geral de Portugal em Londres".
Numa resposta escrita enviada à TSF, o Ministério da Administração Interna (MAI) lembra que para votar presencialmente nos consulados, os portugueses deveriam ter feito esse pedido até ao dia 5 de dezembro. Quanto aos boletins de voto, o MAI afirma que o envio, no caso de Espanha, foi feito entre os dias 2 e 3 de janeiro e que é possível fazer o seguimento da encomenda na página da "Correos", o operador em Espanha. São cerca de 42 mil os boletins que foram enviados para Espanha. Destes, cerca de 5700 já foram recebidos de volta em Portugal, o que representa 12,6% dos boletins enviados, um valor que compara com os 10% de boletins recebidos vindos de Espanha nas eleições legislativas de 2019.
* e Carolina Quaresma
Atualizado às 18h53