Relatório aponta falhas graves no controlo de tráfego aéreo nos aeroportos portugueses
Registos de assiduidade manipulados ou televisões e telemóveis para passar o tempo. A investigação do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários afirma que houve "acidentes que foram evitados por acasos excecionais".
Corpo do artigo
Um relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários aponta falhas graves no controlo de tráfego aéreo nos aeroportos portugueses. O documento secreto, ao qual o Expresso teve acesso, refere falhas como registos de assiduidade e pontualidade manipulados ou controladores que têm televisão para passar o tempo. O relatório considera mesmo que houve "acidentes que foram evitados por acasos excecionais".
São dois os casos citados no documento: um no final de abril de 2021, no Porto, outro já este ano, em Ponta Delgada, nos Açores. Em ambos os casos, houve aviões autorizados a aterrar quando estavam carros de apoios - os chamados follow me - na trajetória das aeronaves. Nos dois incidentes só havia um controlador na torre, quando as regras das escalas e de segurança estipulavam a presença de outros elementos.
13686556
As ausências aconteceram por decisão dos operacionais e supervisores, que assinavam presenças fictícias no local de trabalho, depois remuneradas.
O relatório diz que, em cada situação, o acidente apenas "foi evitado por acasos excecionais". De resto, ao longo de mais cem páginas, os investigadores colocam em causa o serviço assegurado pela NAV, os equipamentos garantidos pela gestora dos aeroportos nacionais ANA e a própria supervisão da Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC).
O documento aponta falhas nos manuais dos controladores aéreos. Há referências a procedimentos obsoletos, alguns com mais de 15 anos.
São também identificados, em vários aeroportos, elementos de distração nas torres de controlo: há televisões, telemóveis, máquinas de café e espaços de convívio, num ambiente que devia ser estéril e propício à concentração, algo fundamental numa tarefa crítica para a segurança do tráfego aéreo.
A investigação, refere ainda a NAV, não respeita a política de cultura justa para incentivar os reportes obrigatórios e voluntários dos incidentes.
Até ao final da próxima semana, o relatório está na fase de recolha dos comentários das partes. Até ao final do ano, deve estar concluída a versão final do documento.