Relatório "arrasador" aponta "descuido e negligência" no Elevador da Glória: partidos exigem "responsabilidades políticas"
A TSF falou com Alexandra Leitão, Bruno Mascarenhas e João Ferreira sobre as conclusões preliminares relativamente ao descarrilamento do Elevador da Glória
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PS, Chega e PCP consideram que tem de haver consequências ao nível político após ter sido conhecido o relatório preliminar ao acidente no Elevador da Glória. É assim que reagem na TSF os partidos da oposição na Câmara Municipal de Lisboa.
O cabo que unia as duas cabinas do Elevador da Glória e que cedeu no seu ponto de fixação da carruagem que descarrilou não respeitava as especificações da Carris, nem estava certificado para uso em transporte de pessoas. Segundo o documento, o cabo “não era indicado para ser instalado com destorcedores nas suas extremidades, como é o sistema no ascensor da Glória (e no ascensor do Lavra)”.
A investigação detetou falhas no processo de aquisição do cabo pela Carris e nos mecanismos internos de controlo desta empresa responsável pelos ascensores.
Em declarações à TSF, Alexandra Leitão, considerando que as conclusões são graves, insiste na demissão do presidente do conselho de administração da Carris e argumenta que tem de haver uma consequência imediata na empresa.
"O presidente do conselho de administração da Carris não tem condições para continuar no cargo, há uma quebra absolutamente inultrapassável de confiança", atira a socialista, referindo que "o que faz cair uma ponte ou haver um acidente num equipamento nunca é uma coisa política, é sempre uma coisa técnica, mecânica, tecnológica, química".
"Mas o conjunto de negligências e descuidos que levaram a essa falha técnica exige uma responsabilidade política também", afirma, sublinhando que não pede a demissão de Carlos Moedas. No entanto, salienta que tem de haver consequências políticas perante a negligência detetada neste relatório.
"O descuido e a negligência patentes neste relatório exigem que, ao mais alto nível, sejam tiradas consequências. É importante que fiquem a saber que, enquanto líder da oposição na câmara municipal de Lisboa, tudo farei para que estas situações sejam ainda mais esclarecidas e tenham as consequências devidas. Não é mandar embora um dirigente intermédio e considerar que as questões estão resolvidas. O passa culpas a que assistimos é degradante, até me envergonha", acrescenta.
Também o vereador eleito do Chega Bruno Mascarenhas fala num documento arrasador: "Naturalmente que um relatório destes nunca poderia apontar falhas políticas. Agora, é preciso perceber que tem de se deduzir um conjunto de responsabilidades políticas, porque o relatório é arrasador."
Além disso, aponta Bruno Mascarenhas, "o relatório aponta para a informação de que a empresa de manutenção informou a Carris que o cabo não estava adequado à função". Desta forma, "é preciso perceber que a Carris soube antecipadamente que este cabo que se rompeu não estava ajustado àquilo que era a função para a qual foi adquirido".
"Isto é absolutamente gravíssimo", diz.
Já o vereador reeleito, do PCP, João Ferreira, garante que a responsabilidade de fazer aplicar as recomendações é do presidente da câmara.
"É uma responsabilidade do presidente da Câmara, que tutela a empresa, garantir que estas recomendações são efetivamente implementadas. Há uma responsabilidade também perante o que está para trás, que é explicar porque é que elas não tinham sido até agora implementadas", adianta, frisando que as desconformidades apontadas pelo relatório "são graves".
"Ainda que não tivesse acontecido o acidente, é suficientemente grave que equipamentos da Carris, e não foi só o elevador da Glória, tenham funcionado em condições em que não deveriam ter funcionado e que representavam risco para os utilizadores. Isto por si só justifica a assunção de responsabilidades no plano técnico e no plano político e justifica medidas, desde logo, de correção e de garantia de que toda a segurança é restabelecida", acrescenta.
O descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa, a 3 de setembro, causou 16 mortos e quase duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.